quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fusão de Itaú com Unibanco sacode mercado

O que vai acontecer com a criação do maior banco do Hemisfério Sul? Para os clientes e funcionários dos dois bancos, por enquanto, muda muito pouco.


De surpresa, depois de meses de negociações sigilosas, surgiu no Brasil o maior banco do Hemisfério Sul. Foi um negócio de números grandiosos: são bilhões em patrimônio e milhões de correntistas.

Com a fusão dos bancos Itaú e Unibanco, o novo grupo já nasce gigante. A operação, que ainda precisa ser aprovada por órgãos reguladores do governo, foi bem recebida por analistas do mercado.

Veja o comentário de Miriam Leitão
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Para os clientes e funcionários dos dois bancos, por enquanto, muda muito pouco. No curto prazo, os caixas eletrônicos dos dois bancos devem ser unificados. Só mais adiante, algumas agências serão eliminadas.

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Essa, aliás, é uma das preocupações dos funcionários: o que vai acontecer com eles? Os diretores dos dois bancos dizem que vão negociar com os sindicatos. Analistas se perguntam em que medida essa concentração do mercado pode afetar o consumidor.
Não basta ser um gigante dentro no Brasil. É preciso dar grandes passos lá fora. A superinstituição financeira que surge da fusão do Itaú com o Unibanco quer conquistar o mercado externo.
“Acho que a gente deverá ampliar a presença na América Latina e, possivelmente, até em países como o Chile, onde nós já estamos”, afirmou o presidente-executivo do novo banco, Roberto Setúbal.
“Ser ‘global player’ em quatro ou cinco anos. Acho que vamos seguir o plano original”, completou o presidente do conselho administrativo do novo banco, Pedro Moreira Salles.
A Itaú Unibanco holding S.A. terá 14 milhões de clientes, 18% das agências, 19% do volume de crédito e 21% dos depósitos, fundos e carteiras administradas.
“Não há compra de nada. Isso aqui é reorganização societária com incorporação sucessiva de ações. Não tem empresas desaparecendo”, garantiu Pedro Moreira Salles.
“No fundo, é uma troca de ações. Os acionistas de uma empresa estão trocando por ações de uma outra empresa de tal forma que nós fiquemos com uma única empresa nesse processo de fusão”, explicou Roberto Setúbal.
Com o negócio, o Itaú, terceiro do ranking, e o Unibanco, quinto colocado, se transformam no maior banco brasileiro, a quarta maior empresa da América Latina e o 17º banco do planeta. São 84 anos de história de um lado e 65 do outro.
São bancos de duas tradicionais famílias do Rio de Janeiro e de São Paulo com culturas diferentes. O modelo de administração e a marca que vão prevalecer ainda não foram divulgados. O que é certo é que o anúncio do casamento, no meio da crise financeira internacional, foi considerado uma boa surpresa.
Na Bovespa, as ações do Unibanco (+ 8,95%) e do Itaú (+ 16,39%) dispararam. “A fusão entre os dois bancos vai fazer com que se crie no Brasil o maior conglomerado financeiro do Hemisfério Sul, o que é muito bom para mostrar a solidez da indústria bancária brasileira”, acredita o consultor financeiro Erivelto Rodrigues.
“Para o sistema financeiro brasileiro, é importante ostentar este conjunto de bancos com um porte e uma liderança indiscutíveis”, disse Celso Grisi, economista da Fractal. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, espera que a fusão ajude a aumentar a oferta de crédito.
“Que eles se unam de modo a continuar cumprindo um papel de liberar crédito e não permitir uma solução de continuidade na liberação de crédito”, declarou o ministro Guido Mantega.
Mas há também efeitos colaterais, como a concentração bancária, que diminui as opções dos brasileiros. Com Itaú e Unibanco juntos, os cinco maiores bancos do país já têm 72% do total de ativos.
“Não se pode dizer que essa junção do Itaú com o Unibanco fará com que as tarifas que eles pratiquem abaixem, sejam tarifas mais razoáveis.
Não vejo por que isso poderia acontecer”, alerta o presidente da EFC Consultores, Carlos Coradi. Outra preocupação é com possíveis demissões.
“Não tem sentido você manter, por exemplo, uma agência em frente à outra, ou uma agência pegada à outra. Infelizmente, fusões desse tipo trazem redução no nível de emprego”, diz o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Nelson Barrizzelli.
Para ser concretizada, a negociação está sujeita à aprovação do Banco Central e de órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O Banco Central já se pronunciou via assessoria de imprensa e disse que a fusão é uma iniciativa que contribuirá para o fortalecimento do sistema financeiro nacional em um mercado que hoje é internacional. O Cade avisou que só se pronunciará depois da decisão do Banco Central.

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