domingo, 8 de junho de 2008

Juros sobem de novo

BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) da economia em meio ponto, para 12,25% ao ano. A decisão, tomada por unanimidade pelos diretores do BC, era esperada pela maioria dos analistas do mercado financeiro. Alguns, mais pessimistas, acreditavam em corte de até 0,75 ponto percentual como forma de tentar conter o avanço recente dos preços.
A alta dos juros é o principal instrumento do BC para combater a inflação. Com o crédito mais caro, os produtos se tornam menos atraentes para o consumidor, o que ajuda a segurar os preços. Num primeiro momento, a elevação de meio ponto não é tão representativa, mas o problema está na temida seqüência de alta dos juros.
Como efeito colateral, o aumento da Selic — que amplia a liderança do Brasil no ranking mundial dos países com juros mais elevados —, traz reflexos à geração de empregos, porque encarece e desestimula os investimentos no setor produtivo.
A elevação de ontem foi a segunda consecutiva dos juros básicos da economia: a anterior, em abril, também foi de meio ponto, à época a primeira alta da Selic em três anos — desde maio de 2005. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 22 e 23 de julho.
A nota divulgada pelo comitê logo depois da reunião não detalhou os motivos da elevação: “Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciado na reunião de abril, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a Taxa Selic para 12,25% ao ano, sem viés (sem novas alterações até a próxima reunião)”.
Pesquisa do BC com economistas aponta para projeções de que a taxa básica de juros chegará ao fim deste ano em 13,75%, o que representaria aumento de mais 1,5 ponto percentual. Até o fim de 2008 haverá mais quatro reuniões. Muitos apostam que novas quedas só em 2009 e, mesmo assim, para um nível acima do atual: 12,5% ao ano.
A preocupação do BC com a inflação se explica: há um movimento mundial de alta de preços, estimulado principalmente pelo encarecimento do petróleo e de alimentos básicos.
O governo trabalha com a meta de 4,5% para a inflação deste ano. O problema é que muitos indicadores, no acumulado em 12 meses, já estouram esse objetivo. Analistas prevêem inflação anual acima de 5,2%.
Críticas de empresários e sindicalistas
Como era de se esperar, empresários e lideranças sindicais reagiram mal à alta dos juros. A Fecomércio-RJ e a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) criticaram a forma de controlar a inflação, afirmando que, se o governo cortasse gastos, não seria preciso aumentar juros. Para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a decisão pode comprometer o ciclo de crescimento do País: “A alta excessiva dos juros anula efeitos positivos de políticas de estímulo à produção”.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) promete mobilizações de rua, no dia 19, contra a política econômica, por considerá-la “um ataque vil aos esforços por desenvolvimento sustentável com distribuição de renda e valorização dos trabalhadores”.
Já a Associação das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) ressalta que o Copom “fez o dever de casa”. Ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero considerou inevitável o aumento da Selic, devido à pressão sobre os preços, mas criticou o BC por não fazer cortes maiores quando a inflação estava controlada no Brasil e no mundo.