quinta-feira, 12 de junho de 2008

Ata do Copom mostra que economia aquecida levou BC a subir juros em junho

BC subiu juros pela segunda vez neste ano na última semana, para 12,25% ao ano.Copom diz que continuará elevando juros 'enquanto for necessário'.

Preocupado com o aquecimento da economia e seus impactos na inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central subiu os juros básicos da economia brasileira, pela segunda vez no ano, de 11,75% para 12,25% ao ano na última semana, segundo ata da reunião, divulgada nesta quinta-feira (12) pelo Banco Central. "O Copom avalia que, diante dos sinais de aquecimento da economia, como ilustram a aceleração de certos preços no atacado e a trajetória dos núcleos de inflação, e da rápida elevação das expectativas de inflação, são relevantes os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual o IPCA seguiria evoluindo de forma consistente com a trajetória das metas", informa o BC, na ata do Copom. Mais adiante, avalia ainda que há um "descompasso importante entre o ritmo de expansão da demanda [procura] e da oferta agregadas [o que] tende a exacerbar o risco para a dinâmica inflacionária". "Nessas circunstâncias, a política monetária deve atuar, por meio do ajuste da taxa básica de juros, para, por um lado, contribuir para a convergência entre o ritmo de expansão da demanda e oferta e, por outro, evitar que pressões originalmente isoladas sobre os índices de preços levem à deterioração persistente das expectativas e do cenário prospectivo para a inflação", diz o BC na ata do Copom.
Crescimento econômico
A reunião do Copom, porém, aconteceu antes da divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano, ocorrida somente nesta semana. Embora tenha crescido 5,8% frente aos três primeiros meses de 2007, o aumento do PIB mostrou desaceleração contra o final do ano passado. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, isso seria "desejável" e mostraria que o ritmo de expansão da oferta estaria compatível com a demanda (procura) pelos mesmos. Por meio da ata divulgada nesta quinta, o Copom informa que, ao subir os juros, está "contribuindo para a sustentação do crescimento, o que requer estabilidade, previsibilidade e a conseqüente extensão do horizonte de planejamento das empresas e famílias, bem como para resguardar os importantes incrementos na renda real dos assalariados observados nos últimos anos". Avalia ainda que os resultados das subidas de juros são "evidenciados ao longo do tempo".

Enquanto for necessário
O Copom disse ainda acreditar que a atual postura de "política monetária" [subida dos juros], a ser mantida "enquanto for necessário", irá assegurar a convergência da inflação para a trajetória das metas.

"Evidentemente, na eventualidade de se verificar alteração no perfil de riscos que implique modificação do cenário prospectivo básico traçado para a inflação pelo Comitê neste momento, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias", informou o BC na ata.

A expectativa do mercado financeiro é, justamente, de novas elevações na taxa de juros no decorrer deste ano. Segundo pesquisa feita pelo BC na última semana, o mercado acredita que que os juros serão elevados para 12,75% ao ano em julho próximo. Em setembro, ainda segundo projeção dos analistas, a taxa subiria para 13,25% ao ano e, em outubro, para 13,75% ao ano. Em dezembro, passariam para 14% ao ano - patamar no qual fechariam o ano de 2008.
Juros
O aumento da taxa básica, que passou de 11,75% para 12,25% ao ano no início deste mês, aconteceu conforme previa a maior parte do mercado financeiro. A preocupação do BC é com o crescimento da inflação, que é resultado da elevação dos preços das "commodities" (produtos básicos com cotação internacional, como alimentos, aço e petróleo) e do aumento da procura por produtos e serviços. No Brasil, vigora o sistema de metas de inflação. Para este ano, e para 2009, a meta central de inflação é de 4,5%, com base no IPCA. Há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, de modo que, teoricamente, a inflação poderia ficar entre 2,5% e 6,5%. Para conter aumento dos preços acima das metas, o BC sobe os juros. Quando julga que a inflação está compatível com as metas, pode baixá-los.
Em doze meses até maio, o IPCA, que é utilizado no sistema de metas de inflação, avançou 5,58%. Deste modo, a inflação anualizada está acima da meta central deste ano, que é de 4,5%. Para 2008, o mercado projeta um IPCA de 5,5%, também acima da meta central. O BC, porém, define a taxa de juros olhando para o futuro, uma vez que as movimentações na taxa Selic demoram cerca de seis meses para terem impacto pleno na economia. São as chamadas "defasagens" na implementação da política monetária. Para 2009, o mercado prevê um IPCA de 4,6%, pouco acima da meta central.