sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Especulação e saída de recursos impulsionam dólar, dizem analistas

Mercado futuro da moeda concentraria foco de especulação.Especialistas vê 'enfrentamento' entre BC e mercado.


A alta de 7% do dólar no acumulado da semana – mesmo com a queda de 2,2% nesta sexta-feira (5) – se explica por uma conjunção entre o momento de saída de dólares do país e especulação no mercado cambial, segundo analistas de mercado ouvidos pelo G1.

De acordo com eles, faltam ao Banco Central (BC) instrumentos para combater o “foco” onde estaria concentrada a especulação pela alta da divisa americana: o mercado futuro.

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“Na semana passada, o BC interrompeu os leilões de “swap” cambial (operações feitas no mercado futuro) porque percebeu que ele próprio estava alimentando a especulação. O especulador usava esse dinheiro justamente para ganhar liquidez e manter a taxa alta”, diz Sidney Moura Nehme, diretor-executivo da Corretora NGO.

Segundo ele, o que ocorreu nesta semana foi que os especuladores “resolveram peitar essa posição do BC”: “Como reação, eles forçaram a taxa para cima, justamente para atrair o banco novamente para o mercado. Estamos assistindo a um enfrentamento do BC com o mercado”. É a mesmo posição de Paulo Fujisaki, analista de mercado da Corretora Socopa, que acredita que os leilões de “swap” podem estar se tornando um instrumento de lucratividade do mercado.

Problema concentrado

Segundo Nehme, o problema está concentrado no mercado futuro. "No (mercado) à vista não tem nenhum tipo de pressão. E toda vez que faltou cobertura nesse mercado, o BC agiu pontualmente e fez leilões. Onde existe o real movimento especulativo, o governo não consegue conter, com os mecanismos que ele tem, ou seja, o leilão de swap", explica.

Para Nehme, o processo de especulação só terminará quando o mercado estiver “zerado”, isto é, quando os contratos que apostam na queda do real estiverem vencidos. “Isso só vai acabar quando quem está perdendo zerar sua posição e assumir o prejuízo, como aconteceu com a Votorantim, com a Embraer”, diz, citando empresas que registraram prejuízo ao liquidar suas operações cambiais. “Naturalmente, quem tem contratos que apostam na alta do dólar está tentando preservar a valorização até o vencimento de suas posições, para poder realizar o ganho”, conclui.

Saída de recursos

Além da especulações, outro fator que influi na alta da divisa é a saída de recursos, na opinião de Alcides Leite, professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios. “Nós estamos com fluxo negativo de dólar. Tem mais dólares deixando o país do que entrando, o que gera uma demanda maior por dólar e obviamente pressiona a cotação”, diz.

Segundo ele, em novembro o passivo – diferença entre saída e entrada de dólares – ficou em US$ 7 bilhões negativos. “Esse recurso sai através de bolsas e aplicações, para honrar a necessidades dos investidores nos seus países de origem”.

Tendências

No entanto, Leite vê a tendência de diminuição na pressão de alta da moeda. “Esse fluxo de saída de dólar tende a diminuir. Nossa balança de pagamentos, está melhorando, por incrível que pareça. E a remessa de royalties, lucros e dividendos têm caído bastante”, afirma.

Já o operador de mercados futuros da Terra Futuros, Daniel Negrisolo, analisa a questão de modo diferente e aponta uma tendência de alta para o dólar. Observando os fundamentos, Negrisolo aponta que persiste o processo de deterioração das economias emergentes como um todo e que o Brasil continua perdendo recursos externos. "O investidor liquida seus ativos aqui para cobrir déficit de caixa lá fora", afirma.

Além disso, Negrisolo lembra que o mês de dezembro concentra um número maior de remessas de lucros e dividendos de empresas, o que aumenta da demanda por moeda estrangeira. "O cenário fundamental continua sendo de alta do dólar", afirma.

1 Comentar:

Anônimo disse...

Que blog é esse? que fica tanto tempo sem postagens!