quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Saúde bucal e qualidade de vida


O último e mais completo estudo epidemiológico sobre saúde bucal no Brasil foi realizado em 2003 (SB Brasil). Revelou condição bastante preocupante. O Brasil possuía cerca de 30 milhões de pessoas com perda de algum dente e 8% da população sem nenhuma dentição; 13% dos adolescentes nunca fizeram avaliação com dentista e 45% dos brasileiros não tinham acesso a escova de dentes. Segundo recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% dos indivíduos com 18 anos devem ter todos os dentes e o estudo revelou que apenas 55% desta população apresentava tal condição. Outro dado alarmante: as necessidades de tratamento com prótese dentária para reposição de dentes perdidos começavam entre 15 e 19 anos.

Por que a saúde bucal no Brasil apresenta números tão cruéis? Não é por falta de dentistas. Com cerca de 230 mil cirurgiões dentistas para uma população de 190 milhões de brasileiros, há uma média de 1 dentista para cada 900 pessoas. De acordo com o Conselho Federal de Odontologia, esta é uma proporção considerada satisfatória, diante da preconização da OMS, de 1 para cada 1.500 pessoas.

Se reportarmos à história de investimento em saúde pelo poder público, há a convicção de que a realidade da saúde bucal do brasileiro exposta acima é o reflexo da cultural falta de prioridade com saúde do brasileiro. Mais que ficar discutindo o que deveria ter sido feito, ideal é buscar a implementação de políticas sérias e abrangentes de saúde bucal. Políticas que priorizem a valorização das equipes de saúde bucal e, sobretudo, que os recursos investidos tenham destinos certos.

O Projeto Brasil Sorridente, integrando o Programa Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Ministério da Saúde, foi criado em 2004 com a proposta de mudar a caótica realidade de saúde bucal do brasileiro. E, de acordo com dados oficiais, no período de 2003 a 2006 foram investidos R$ 1,2 bilhão na promoção de saúde bucal, com promessa de que até 2010 o montante investido atingirá R$ 2,7 bilhões. Diante de números tão expressivos, há que se esperar mudanças profundas na realidade atual. Novo estudo para levantamento epidemiológico está previsto para 2010.

O 15º Congresso Internacional de Odontologia de Goiás, realizado esta semana em Goiânia, propõe como temática central Brasil Sorridente: uma Nova Realidade Social? Oportunidade de compartilhar experiências que podem promover uma maior eficácia ao projeto. Espera-se que, ao final, tenhamos uma resposta convincente ao questionamento proposto e que os debatedores não se furtem em expor os reais resultados obtidos até então. Há que se ter a consciência de que se trata de uma discussão indispensável na atual conjuntura de transformação socioeconômica por que passa nosso País.

É fato que a saúde bucal reflete em vários aspectos na qualidade de vida do indivíduo. Tanto é verdade que em pesquisa recente, neste mês, abordando as profissões que despertam mais confiança na população, os dentistas ficaram em terceiro lugar, atrás apenas dos bombeiros e pilotos de aviação.

A pessoa com limitações na mastigação dos alimentos, seja por algum quadro de dor ou pela perda de dentes, pode ter comprometido todo o processo de digestão, resultando em problemas mais graves à saúde geral. Há inúmeros tipos de cefaléias cujo fator causal encontra-se no sistema mastigatório. E obviamente quando isto ocorre o profissional responsável pelo diagnóstico e tratamento é o cirurgião dentista.

Portanto, há evidências da necessidade de promovermos e mantermos um padrão aceitável de saúde bucal. Para tanto, todos precisam estar envolvidos e conscientes de suas responsabilidades.

Sicknan Rocha, especialista, mestre e doutor em Reabilitação Oral/Unesp, é prof. adjunto da Faculdade de Odontologia da UFG

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