quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Da garagem de casa aos R$ 500 milhões por ano

Sung Un Song, dono da fabricante de placas para computador Digitron, sobreviveu ao contrabando do mercado de informática e, hoje, é a possui a única empresa licenciada pela Intel no mundo para produzir placas-mãe
Por Viviane Maia

Song, da Digitron: espírito "garageiro" sempre
Em meio ao improviso doméstico, dividindo espaço com sua máquina de lavar, Sung Un Song começou a montar placas-mãe para computadores.

A ideia de ter seu negócio próprio surgiu durante o período da faculdade em que fazia Engenharia Eletrônica, na Escola Politécnica da USP. “Não tinha nenhum capital para montar uma empresa. A saída foi começar a empreitada na garagem de casa”, diz Song. O empresário se inspirou em nomões como Bill Gates e Michael Dell, que também começam no fundo do quintal. No início da Digitron, em 1986, quando o mercado de informática brasileiro ainda engatinhava, este sul-coreano naturalizado no Brasil montava placas-mãe dia e noite. “Com a ajuda de duas pessoas, fazíamos 1.000 placas por mês”, afirma.

Com o passar dos anos, a Digitron foi conquistando mercado entre os integradores (empresas que montam computadores) e chegou as 40.000 unidades por mês. Hoje, com a produção de 1 milhão de placas por mês e faturamento de R$ 500 milhões por ano, a empresa é a única empresa no mundo licenciada para produzir placas-mãe com a marca Intel. Como conseguiu chegar lá? “Investimos num período em que o risco de investir era grande, já que os produtos ilegais respondiam por 60% do mercado”, afirma.
Em vez de trocar de ramo ou investir em um novo produto, Song ampliou a produção. Ele acreditava que a empresa que estivesse preparada para o momento da explosão dos computadores legalizados sairia na frente. “Acho que isso faz parte do meu espírito garageiro, de não desistir nunca. Acreditava que chegaria uma hora que o consumidor iria optar por máquinas com garantia, fato que o mercado ilegal não oferecia”. Não deu outra: em 2005, o governo assinou a MP do Bem que dava incentivo aos fabricantes de computadores em território nacional. Isso fez com que o preço das máquinas caísse até 40% e o faturamento da Digitron chegasse a R$ 220 milhões.

A fábrica da Digitron em Manaus
O crescimento da fabricante brasileiras chamou a atenção da Intel, que, por meio de seu braço de investimentos Intel Capital, procurava fomentar a fabricação de placas no Brasil para tentar combater o mercado cinza, nome dado ao contrabando de componentes. Em 2006 as duas empresas fecharam uma parceria e a Intel tornou-se sócia minoritária da Digitron. “Um dos fatores que fizeram com que investíssemos na Digitron foi a visão empreendedora de Song e a moderna estrutura da fábrica”, diz Fábio de Paula, diretor de investimentos da Intel Capital. Mas, não foi só isso que fez com que a Intel decidisse, pela primeira vez, terceirizar a produção em um país. Com a fabricação local, as placas da Intel ficariam cerca de 20% mais baratas do que as importadas, só com a redução dos impostos. Com esses números, os brasileiros convenceram a matriz. O valor do acordo não foi revelado, mas, segundo Song, o montante foi usado em troca de maquinário, capital de giro e para construir uma segunda fábrica em Manaus.
Especula-se que o investimento conjunto com a Intel tenha chegado a US$ 12 milhões de dólares, dos quais US$ 10 milhões foram destinados à montagem da linha de produção e outros US$ 2 milhões em equipamentos da Digitron. Para manter a qualidade dos produtos, cada placa da Digitron recebe um selo e um número. Por meio dessa identificação, a equipe da Intel nos Estados Unidos pode acompanhar cada item via internet, em tempo real. Assim é possível saber facilmente quando há um problema na produção.
vendas para a Intel respondem por 50% de toda a produção da Digitron. Com a parceria, a empresa faturou R$ 500 milhões em 2008. E espera crescer mais de 30% neste ano. Agora, a companhia está investindo em placas para notebooks, nettops (um desktop compacto) e netbooks. “É sempre bom começar algo novo. É como se eu estivesse nos tempos da garagem”, afirma.

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