terça-feira, 1 de setembro de 2009

O desafio do crédito

Nenhum negócio prospera sem o acesso ao crédito. No mundo globalizado como o de hoje, com as transações e operações creditícias operadas em regime de tempo real, nem mesmo o cidadão comum foge do acesso ao crédito. Faz parte do negócio. Faz parte da própria vida.

Imagine-se a vida de uma empresa nascente: como vai ela se estabelecer, se fixar, gerar emprego e renda, produzir, se não com a sustentação do crédito – o crédito para nascer e, principalmente, o crédito para sobreviver?

É neste mundo moderno também que se localiza uma boa variedade nas modalidades de crédito. E que apenas fazem crescer, em vista da acirrada disputa no mercado bancário, hoje igualmente globalizado, com a predominância do capital sem pátria, que dita regras, mas que também se desdobra nas alternativas oferecidas ao mercado.

Na vida das micro e pequena empresas o crédito é um componente essencial. Mas o mercado ainda não é o melhor. E longe está de ser generoso. Pelo contrário, a toda a abundância de crédito corresponde igual fartura no patamar das exigências. O rigor na concessão do crédito é a regra básica. São múltiplas as imposições e amplas e às vezes complexas as condições estabelecidas para a concessão do crédito.

Começa do tempo da própria empresa. Se é nova – e isto é recorrente no cenário das micros e pequenas –, está aí o primeiro impasse. E outros obstáculos vão se colocando: oferta de garantias, comprovantes de credibilidade, folha corrida nos procedimentos creditícios e fiscais, e o fantasma de eventuais passagens por instâncias controladoras do crédito, como o Serasa, o SPC e outras.

É uma situação que precisa de tratamento mais racional. É necessário que se revejam os procedimentos, para que não morram – como continuam morrendo – empresas que nasceram do ideal, que se projetaram no impulso do empreendedorismo, que brigaram para achar um lugar no mercado.

As fontes de crédito vêm melhorando. O FCO, gerido pelo Banco do Brasil, é um deles. Só que vem trabalhando com poucos recursos. Em Goiás mesmo a fonte secou no meio do ano, e agora se luta para uma complementação que possa atender à demanda de mercado ávido de recursos para sustentar o perfil da prosperidade nos negócios. Por último, registre-se o avanço da Caixa Econômica Federal na diversificação de linhas de crédito, como esta última, o Giro Caixa Fácil, que chega com a tendência de uma autêntica tábua de salvação para o micro e pequeno empresários.

O Sebrae tem sido de certa forma essa ponte, quando atua, por exemplo, com o seu Fundo de Aval e na Construção da Sociedade de Garantia de Crédito. Há, portanto, sinais alvissareiros no mercado, para que o crédito deixe de representar um cenário selvagem para se apresentar, efetivamente, como fator de proteção e valorização da empresa, e por consequência de bonança nos negócios.

Algo mais há que ser feito no sentido do apoio e do fortalecimento das micro e pequenas empresas no Brasil. No mínimo pelo que elas representam na economia do País: constituem 99,2% das empresas brasileiras e empregam 60% das pessoas economicamente ativas. Mas respondem por apenas 20% do PIB brasileiro, fator ligado especificamente à dificuldade de acesso ao crédito para a manutenção e investimentos de expansão.

Será que a micro e pequena empresas vão continuar com pires nas mãos, ou passando o chapéu, tendo de recorrer a pagamentos a prazo aos fornecedores, ao cheque pré-datado, quando não aos empréstimos de parentes e de amigos, se não aos juros escorchantes dos agiotas?

É preciso mais. É preciso que se respeite o sonho dos empreendedores. É preciso que se dê a mão a quem quer se estabelecer, para trabalhar, para produzir, para gerar emprego e renda.

Pensemos nisso.

Humberto R. de Oliveira é empresário e presidente doConselho Temático de Micro e Pequena Empresa da Fieg

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