domingo, 27 de setembro de 2009

Meirelles é exceção

A possível candidatura de Henrique Meirelles ao governo goiano, sonhada por uns, coloca em questão a presença de Goiás no cenário nacional. O presidente do Banco Central é, sem dúvida, o goiano que ocupa o mais destacado cargo na República Brasileira, sem desmerecer os ilustres senadores e deputados federais. Contudo, uma questão é certa, seu cargo e a sua permanência no mesmo, ao longo do governo Luiz Inácio Lula da Silva, não se apresenta como demanda de Goiás e nem em razão da força política estadual. Os motivos e razões de um goiano dirigir o Banco
Central foram e são de outra natureza.
Itami Campos

Neste sentido, há diferenças entre a presença de Goiás na economia e na política brasileira. Goiás, desde os anos de 1930 e, especialmente, a partir dos anos 1980, passou a ter uma presença maior na economia brasileira. A economia estadual, hoje, apresenta avanços em setores industriais, situando-se entre as principais economias brasileiras, com crescente índice de exportação de produtos. No entanto, na cultura, na área jurídica e nem na política Goiás se destaca nacionalmente.

Ao longo da República foram poucos os goianos que ocuparam cargos de destaque nacional, de ministro de Estado principalmente. Verificando os nomes de ministros goianos, tem-se uma relação não muito grande. Leopoldo de Bulhões, chefe político estadual no início da República, torna-se ministro da Fazenda em 1902-1906 e em 1910-1911, mas perde a chefia política regional, ainda ministro de Rodrigues Alves. Durante muito tempo, nenhum político goiano chegou ao primeiro escalão federal. Nem Antônio Ramos Totó Caiado, inconteste chefe político goiano de 1909 até 1930, nem Pedro Ludovico, mais influente chefe político goiano de 1930 até a década de 1970, ocuparam posição de destaque no cenário nacional. No regime parlamentarista (1961-1963), o jornalista Alfredo Nasser, paulista radicado em Goiás, ocupou a Pasta da Justiça (1961-1962). Durante o regime militar (1964-1984) nenhuma liderança de Goiás se destaca nacionalmente.

A partir de 1985, a presença goiana no plano nacional tem sido maior. Foram ministros de Estado: Íris Rezende (duas vezes), Flávio Peixoto (duas vezes), Henrique Santillo e Ovídio de Angelis. Parece refletir alteração na relação de força do Estado com a Federação, mesmo assim ainda menor que a de muitos outros Estados. No governo Lula, além de Meirelles, nenhum goiano ocupou pasta ministerial. E tem sido pequena a presença goiana nos segundo e terceiro escalões, apesar da proximidade territorial de Brasília. Observe-se que alguns Estados utilizam-se estrategicamente desses escalões intermediários para capitalizar vantagens nas disputas por verbas e outros recursos junto ao governo federal.

Ao que tudo indica, o político goiano apresenta-se humilde, acanhado e pouco articulado em Brasília, se comparado a políticos de outras regiões. Contraditoriamente, quando prestigiado nacionalmente, lhe retiram espaço regionalmente ou, no mínimo, não tem reconhecimento efetivo de sua expressão política nacional. Muitos são os políticos goianos que, com destaque no Congresso Nacional, passam a ter dificuldade em manter seu eleitorado.

No que se refere ao presidente do Banco Central, mostra-se evidente o assédio de políticos goianos para sua filiação partidária e mesmo para candidatura a cargo executivo. Além disso, a postulação de uma candidatura parece ser mais pressão e interesse de grupos políticos regionais que vontade do próprio Meirelles em apostar suas fichas, obtidas em gestão bancária e do setor financeiro, num jogo político de difícil previsão. Embora lhe seja reconhecido o sucesso na estabilização da economia brasileira na crise do capitalismo global, há dúvidas se esse êxito na economia se reverterá em votos nos rincões goianos. Daí a questão: por que o assédio para filiação e candidatura, se o próprio nunca manifestou claramente a vontade de candidatar-se? Será por seu prestígio nacional, pois, ele não tem base eleitoral em Goiás.

Vale considerar que política envolve recursos e poder, mas também capacidade de articulação. O processo eleitoral apresenta-se como espaço para ser trabalhado com habilidade, mas cheio de manhas e artifícios. Quem tem força eleitoral e peso político pode pretender bancar o jogo, mas arrisca-se a perder, mesmo porque na política não há espaço para ingenuidade, sendo que a autoridade advém dos votos obtidos.

Itami Campos, cientista político, é pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Ação Comunitária da UniEvangélicaitamicampos@gmail.com

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