sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A mente corrupta

Como nasce ou se forma uma mente corrupta?

Charles Reade dá a dica: “Semeie um ato, e você colhe um hábito. Semeie um hábito, e você colhe um caráter. Semeie um caráter, e você colhe um destino”.

A consciência humana não é um fato isolado das circunstâncias. Cada pessoa nasce com dados biológicos: uma estrutura óssea, uma característica herdada. Mas a consciência não. Ela se forma e se constitui a partir da localidade física (o corpo) numa interação com o ambiente, a saber, a família, a comunidade, as relações de trabalho e outras mais.

Essa tendência para o ambiente, para além de si mesma, é a grande trama que faz a consciência alcançar a sobrevivência: os reparos morais, as interdições éticas e o que garante gratificação, reconhecimento e identificação de si mesma.

É nessa busca pelo ajuste, por adequar-se ao meio, pela aceitação dos outros, que se instala a mediação entre o que é bom ou ruim. O que não é bom para si (a consciência), mas é bom para o ambiente é assim tratado: ou caio fora de determinada circunstância ou aceito o pensamento corrente para me ajustar e ficar.

Isso prova, então, que a consciência de cada um é construída tendo em vista obter a aceitação dos pares. Ninguém consegue ter consciência de si, e somente só. Não. A consciência de cada um é sempre “consciência de”, ou seja, ela é carente de objetos, relações, gratificações, etc. E é então nessa busca pelo aceite que um ambiente corrupto pode produzir mentes corruptas.

Tudo bem, as coisas não são simples assim. Porém não há evidências de que os atos de corrupção brotam singularmente das pessoas, sem que antes tenham sido garantidos como meio de satisfação em um dado ambiente. O que passa disso é doença ou está além da possibilidade humana de entender pela razão. Por isso, um modo eficaz de combater a corrupção é fazer com que a indignação a ela seja coletiva, e não apenas pontual, como está nas páginas de livros de ética guardados em bibliotecas.

Se a mente recebe do ambiente sua gratificação, logo é preciso propor ao coletivo aquilo que lhe é próprio: a legitimidade de interditar a corrupção. Mas se a mente interage com o meio, então de onde poderá emergir a saúde da consciência em um ethos que acredita no jeitinho brasileiro, no slogan “todo mundo faz, por que eu não”? Será que Marques de Maricá tem razão quando deduz que um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto? Eis aí o desafio! Por enquanto o que se pode constatar é que as ruas estão desertas, sem protestos, e o cidadão, inerte.

Wagno Oliveira de Souza é Mestre em Filosofia Política e professor

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