terça-feira, 14 de outubro de 2008

Império Romano viu a formação do 'embrião' das bolsas de valores atuais

Tradição mercantilista foi reforçada no Renascimento. Holandeses desenvolveram os mercados acionários como os conhecemos.


A crise que abalou o mercado financeiro internacional -e inclusive o Brasil- nas últimas semanas chama a atenção do público para as bolsas de valores.

Entenda a crise dos mercados financeiros

Mas o que muita gente não sabe é que as bolsas e o mercado acionário são mais antigos do que parecem.

Desde o Império Romano, as empresas já formavam seu capital vendendo ações ao público. Os homens de negócios, ainda que não contassem com a simpatia popular, se tornaram uma das classes mais influentes do Império. Esse pode ser considerado o embrião das Bolsas de Valores atuais, cujo funcionamento atual está determinando o rumo da economia mundial. Não é difícil perceber, portanto, que a especulação não é nova na história da humanidade.

"A compra ou venda de títulos representa uma especulação sobre o que virá no futuro – alguns chamam isso de investimento; outros, de aposta. Mas, de alguma maneira, os homens sempre especularam", escreveu o autor Robert Sobel no livro "The Big Board – A History of the New York Stock Market" (O Grande Quadro – A História da Bolsa de Valores de Nova York), que registra exemplos semelhantes ao dos romanos nas sociedades grega e mesopotâmia, por exemplo.
O período do Renascimento só fortaleceu essa tradição mercantilista e especulativa. Segundo Sobel, os mercadores renascentistas tentavam reduzir seus riscos organizando empresas de ações conjuntas, que serviam para financiar viagens de navios comerciais. Os lucros que viessem depois eram divididos entre os donos das ações.
No século XV, alguns destes mercadores chegavam a lucrar 100% ao investir em um barco que levasse e trouxesse mercadorias do Oriente Médio. Claro que lucros tão abundantes atrairam mais e mais investidores, o que levou ao surgimento dos primeiros corretores de ações: eles se congregavam nas cidades – que não paravam de crescer – e tinham como função principal intermediar as transações entre investidores.

Bolhas e tulipas

A Bolsa de Valores como conhecemos hoje aparentemente começou com os holandeses. Em 1602, nasceu a Companhia das Índias Orientais, para fazer transações comerciais no Oriente, e em 1688 corretores e especuladores já compravam e vendiam suas ações no Mercado de Amsterdã.
Também na Holanda surgiu uma das primeiras crises do mercado financeiro, que inclusive lembra muito a atual crise das hipotecas.
"O mercado mais incrível do começo do século XVII não era em ações, mas sim em bulbos de tulipas", explica Robert Sobel. As flores foram introduzidas pelos turcos e logo se tornaram uma sensação entre os holandeses. Seus preços, por conseqüência, foram à estratosfera.
Quando os mercadores começaram a perceber que as tulipas não valiam o preço pelo qual estavam sendo vendidas, a bolha estourou, e o pânico dominou o mercado.

'Stock Exchange' no Brasil

A crise foi fortemente sentida, mas não impediu que o mercado financeiro continuasse a se desenvolver. A compra e a venda de ações se tornaram intensas em Londres e Paris, por exemplo. Segundo Sobel, na capital britânica, em 1773, os corretores costumavam se reunir em um café, que se tornou um ponto de referência e logo ganhou o nome de "The Stock Exchange", termo pelo qual as bolsas são conhecidas até hoje.
O Brasil chegou a ter nove bolsas de valores, segundo a Comissão de Valores Monetários (CMV). A primeira delas surgiu no Rio de Janeiro, com a formação da Junta dos Corretores de Fundos Públicos da Corte, em 1848, fundada a partir da expansão do café e do volume de moeda circulante no país, explica Maria Bárbara Levy no livro "História da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro". A bolsa paulista nasceu em 1890, logo após a Proclamação da República. Mas enfrentou uma crise logo em seu primeiro ano.
É que, em 1891, o governo, para estimular a industrialização e aumentar a oferta de crédito, passou a emitir mais dinheiro. Os resultados da "política do encilhamento" foram desastrosos: a especulação aumentou e a inflação também. "O dinheiro emitido pelo governo não tinha lastro, o que gerou a crise", disse ao G1 o economista Roberto Troster, especializado em mercado financeiro.

Foto: Divulgação BMF BOVESPA
Em 1934, as negociações eram feitas em torno de um balcão central (Foto: Divulgação BMF BOVESPA)
Quatro anos depois, a bolsa paulista reabriu com o nome de Bolsa de Fundos Públicos de São Paulo, época em que, segundo a Bovespa, as negociações de ações eram registradas em enormes quadros-negros (veja foto ao lado). Com seu crescimento, a Bovespa acabou absorvendo as demais bolsas brasileiras.
Booms e cracks

Troster explicou que, a partir de então, a Bolsa enfrentou uma série de "booms" e "cracks", até a internacionalização nos anos 90 e a chegada dos investimentos estrangeiros. Nos anos 2000, foi a época da incorporação de novas tecnologias e das transações eletrônicas.
Corretor de valores da Bovespa há 35 anos, Paulino Botero de Abreu Sampaio nem sequer se lembra de quantas crises presenciou no mercado financeiro. "Foram muitas", disse ao G1. "Mas assim aprendi que não há crise que não passe".A crise que abalou o mercado financeiro internacional -e inclusive o Brasil- nas últimas semanas chama a atenção do público para as bolsas de valores.

0 Comentar: