sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Consumidor já sente falta de crédito

Mesmo com as medidas do governo para aumentar a liquidez, fazer financiamento está mais difícil


O motorista Apolinário Cabral Santiago abriu uma distribuidora de bebidas na Vila São Tomás, em Aparecida de Goiânia. Mas para que o negócio deslanche, precisa adquirir uma moto para fazer as entregas aos clientes. Entretanto, ao tentar financiar a compra do veículo, foi surpreendido por uma nova exigência da loja: o pagamento de 20% do valor do bem a título de entrada, o equivalente a cerca de R$ 1,2 mil.

“Não tenho esse dinheiro disponível”, reclama o microempesário. Segundo ele, meses atrás colegas seus compravam motocicletas totalmente financiadas, sem nenhuma entrada, e saíam com o veículo da concessionária no mesmo dia. Um amigo chegou a montar uma agência de motoboys com três motos financiadas. Porém, a situação mudou depois que estourou a crise financeira mundial.

Segundo o proprietário da Moto Aires, Edson Aires, a farra do crédito acabou. Com isso, as vendas de motos despencaram, em média, pela metade, na comparação com o registrado antes do início das turbulências no mercado financeiro internacional, que têm causado fortes oscilações nas bolsas de valores de todo o mundo. Por isso, as empresas estão buscando alternativas, como o consórcio.

Outra situaçãoAntes os bancos financiavam 100% do valor de aquisição da moto, incluindo acessórios, emplacamento e seguro. O comprador tinha o crédito aprovado na hora. Agora a situação é outra. As instituições financeiras exigem pagamento de 20% de entrada e estão bem mais criteriosas na aprovação da operação de crédito, liberando apenas 10% dos pedidos. “O dinheiro sumiu”, reclama Edson Aires.

O Banco Central tem tomado medidas para aumentar a liquidez do mercado. O governo, inclusive, já deixou de recolher dos bancos R$ 50 bilhões para manter o mercado de crédito aquecido, porém esse valor não tem revertido em financiamento para o consumidor.

Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e (Anefac), aponta que a crise financeira mundial já causa efeitos no dinheiro em circulação no Brasil. Os bancos estão restringindo os financiamentos e escolhendo melhor os clientes. As taxas de juros estão subindo, e os prazos, encolhendo. Eles já ficaram, em média, um ano mais curtos.

Para manter as vendas, as concessionárias de veículos estão utilizando mais os bancos das montadoras, que oferecem taxas juros menores do que as cobradas pelos bancos. Antes, de acordo com o gerente de vendas da Saga, Valdizar de Morais, o banco Volksvagen respondia por até 30% das vendas financiadas de veículos. O restante ficava a cargo de três ou quatro bancos. Agora a participação é de 50% para cada lado. Além disso, o prazo máximo de pagamento é de 60 meses, e não mais de 72 meses.

O gerente de vendas da Jorlan, Márcio Macedo de Oliveira, admite que os bancos têm adotado um pouco mais de critério na aprovação do crédito. Não há mais prazo de 72 meses. Os contratos passaram a ter prazo de 48 a 60 meses para pagamento.

Nas redes varejistas o consumidor também já começa a perceber o aperto do crédito, traduzido na redução dos prazos de pagamento. A rede C&A, por exemplo, dividia em até cinco parcelas no cartão próprio. Há cerca de 15 dias esse prazo diminuiu para três vezes.

O diretor financeiro da rede Novo Mundo, Geraldo Luterman, explica que o crediário da empresa é próprio e, por enquanto, não sofreu alterações. Entretanto, a diretoria tem acompanhado o comportamento do mercado para definir seus planos futuros.

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