domingo, 6 de dezembro de 2009

JATAI

Agrotóxicos nos alimentos causa preocupação

Marla Rodrigues
A suspeita de contaminação do Rio Claro por agrotóxico despertou preocupação a respeito dos riscos desse tipo de produto à saúde humana. O Rio Claro é a principal fonte de captação da água que abastece o município de Caçu, no Sudoeste do Estado, onde foi suspenso o fornecimento de água até que que se confirmasse a extensão do dano provocado pelo vazamento de carga de defensivos agrícolas de caminhão que tombou na BR-364, em Jataí, na tarde de quinta-feira. Amostras da água foram coletadas e exames descartaram nível elevado de substâncias tóxicas, o que garantiu a normalização do abastecimento de água às 23h30 de sexta-feira.

Mas o fato provocou também questionamentos sobre o uso de agrotóxicos nas plantações e o que isso representa na qualidade dos alimentos assim produzidos e consumidos em larga escala.

Ao promover uma dieta rica em verduras, legumes e frutas, a população acredita ter uma alimentação saudável, porém reportagem do POPULAR de 23 de agosto mostrou pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que aponta excesso de resíduos de agrotóxicos em alguns produtos. O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) registrou, por exemplo, que mais de 70% das amostras de cenoura e pimentão do Estado possuem excesso de resíduos de agrotóxicos.A gerente de normatização e avaliação da Anvisa, Letícia Rodrigues da Silva, explica que essas análises ocorrem desde 2001. Além do problema do resíduo, as pesquisas apontam também a utilização de produtos não autorizados para determinadas culturas. Segundo ela, “eles são utilizados por diversas razões, desde a desinformação até a irresponsabilidade”.
A longo prazo, o excesso destes resíduos pode ocasionar câncer, esterilidade, má formação de fetos e até problemas neurológicos.Para proteger aplicadores e consumidores, uma lista de substâncias é reavaliada a cada ano pela Anvisa. Neste ano estão sendo reavaliados 14 princípios ativos de produtos agrotóxicos. Letícia explica que esta lista é feita com base em estudos científicos e análise de alertas e proibições de outros países. Quando reprovado, o princípio ativo perde o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e não pode mais ser comercializado pelas empresas.Esta lista de reavaliação já foi alvo de processos em 2008 por parte de duas empresas que utilizam tais substâncias em seus produtos e seu respectivo sindicato, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag). José Otavio Menten, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que representa, entre outas associações, o Sindag, afirma que a reavaliação é importante, mas uma comunicação maior entre Anvisa e empresas é necessária.
O que se pede é que a Anvisa permita uma ampla defesa e debate sobre os princípios ativos reavaliados em questão. O ideal é que a Agência disponibilize com antecedência a lista de substâncias em reavaliação, justificando-a com artigos e estudos científicos”, explica.José Otavio garante que se os herbicidas fossem utilizados seguindo rigorosamente as instruções do rótulo, não haveria casos de resíduos de produtos nem a presença de agrotóxicos proibidos para determinada cultura. “Percebeu-se que por uma questão até de desinformação, o produtor utiliza, por exemplo, agrotóxicos próprios para soja em uma cultura de tomate”, diz. De acordo com ele, é preciso um processo de educação e treinamento dos aplicadores deste tipo de produto.

Fiscalização
José Reis, coordenador de Agrotóxicos da Gerência de Sanidade Vegetal da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) e responsável pela equipe que fiscaliza desde a compra dos produtos agrotóxicos até o descarte das embalagens vazias dos mesmos, aponta deficiências no órgão de fiscalização. Segundo suas explicações, a Agrodefesa não tem um sistema efetivo de acompanhamento de todas as propriedades e apresenta relatórios por amostragem de regiões. José Reis avalia que o número de fiscais da Agrodefesa não é o ideal, porém, diz, a contratação prevista de 120 novos agrônomos pode ajudar a diminuir essa deficiência. Embora a fiscalização seja importante, ele lembra que o trabalho de educação sanitária é indispensável para a prevenção do uso indiscriminado de produtos agrotóxicos. O ideal é que as pessoas também tentem conhecer ao máximo a origem dos alimentos que consomem, orienta ainda.

Projeto de lei
Outra opção é que o Estado intervenha no registro e venda dos princípios ativos que, utilizados de forma errada, podem ser prejudiciais à saúde. Este é o Projeto de Lei do deputado estadual Marlúcio Pereira (PTB), que visa proibir em Goiás a comercialização de todos os princípios ativos presentes na lista de reavaliação da Anvisa deste ano. Para Letícia, a iniciativa é positiva, pois força as empresas a pesquisarem novos tipos de defensivos agrícola. Segundo ela, os países que deixaram de comprar os alimentos que apresentavam certas substâncias promoveram um desenvolvimento na agricultura dos exportadores. Já os produtores rurais não ficaram nada contentes com a proposta do deputado. Vitor Geraldo Gaiardo é um dos que reclamam que este projeto de lei não tem condições de existir.
“O deputado não tem a menor ideia do que está falando. Proibir o glifosato (usado em herbicidas) é retroceder 30 anos em tecnologia”, critica. Esta substância foi responsável por permitir o uso do plantio direto no lugar do plantio convencional, que aumenta os custos da produção e traz mais malefícios para o solo, expõe o produtor.O agrônomo e produtor rural Silomar Cabral concorda com Vitor e acrescenta: “Como é que o deputado espera que matemos os carrapatos do gado? Na unha?” Segundo ele, proibir não é a solução, pois a maioria dos produtores procura, de fato, a orientação do agrônomo para a correta aplicação de agrotóxicos. “Na minha opinião, esse deputado só quer ganhar destaque, pois se o projeto for aprovado ele vai impossibilitar a agropecuária no Estado”, diz.

0 Comentar: