sábado, 11 de julho de 2009

O monge e o presidente

O monge e o presidente

Se no mundo dos negócios a premissa levantada pelo consultor James C. Hunter, autor do best seller O Monge e o Executivo, causou verdadeira revolução entre líderes empresariais, imagine o efeito em cadeia que tais ensinamentos podem gerar no setor público. Talvez imensuráveis sejam as consequências. Talvez inimagináveis, as mudanças verificadas. Mas a despeito de um cenário que começa a se configurar, temos um exemplo bem tupiniquim de como os novos conceitos sobre liderança são práticos. Sim, nós temos, na esfera pública brasileira, um modelo do que é ser um líder servidor. Um líder que sabe detectar as legítimas necessidades – e não vontades – das pessoas e as atende. Um líder que sabe influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente. A trajetória de um certo Silva não me deixa mentir.

Ele nasceu no Estado de Pernambuco, em 1945. Cidade pequena no século 20, hoje Garanhuns ainda conserva seu estilo interiorano. E foi de lá que o sétimo dos oitos filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello partiu rumo a uma aventura desconhecida. Junto com a família, Luiz Inácio Lula da Silva, aos 7 anos, mudou-se para um bairro pobre do Guarujá. Em um caminhão “pau-de-arara”.

Mas esse era apenas o começo da caminhada. Em 1956, Lula e sua família partiram em busca de uma vida melhor em São Paulo. Tempo de escassez e de provas. Mas as aparentes dificuldades não vieram sozinhas. Estavam bem acompanhadas de novas experiências profissionais.

Aos 12 anos, Lula inaugurou seu currículo: começou numa tinturaria, tornou-se engraxate, office-boy. Anos mais tarde, obteve do Senai o certificado de metalúrgico. A partir daí, a bagagem de vida deste pernambucano revelou preciosidades de caráter. De alguém que não murmurou contra adversidades, mas, antes, fez delas subsídio para entender as necessidades do próximo. Num deserto de individualidades e egocentrismos, Lula entrou no oásis do altruísmo.

Os efeitos de tal postura não pararam de aparecer. Em 1975, Lula foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Em março de 1979, cerca de 170 mil metalúrgicos pararam o ABC. A repressão policial e a quase inexistência de políticos que representassem os trabalhadores fizeram com que Lula pensasse em criar um Partido dos Trabalhadores. Um ano mais tarde, o sonho se concretizou.

Nova passagem começou, então, a se abrir na vida deste Silva. De líder sindical a líder partidário. De líder partidário a líder e agente político - em 1986, Lula foi o deputado federal mais votado do País, para a Assembleia Constituinte. Não que todos esses papéis sejam estanques. Na verdade, eles se complementam. Líder em casa, no trabalho, no partido, no ambiente em que vive. Líder para encarar um dos mais altos desafios: ser candidato a presidente da República.

E ele topou. Foi atrás da vaga em 1989, em 1994 e 1998. Perdeu nas três ocasiões. Mas quem disse que derrota não faz parte do processo? Saber gerenciar os momentos de crise talvez seja um dos principais segredos dos bons líderes. Crescer nas adversidades; e isso o menino Lula aprendeu desde cedo. Ensinamentos que o respaldaram na vitória de 2002, quando foi eleito presidente da República. Em 2006, nova vitória: o povo decidiu que ainda queria Lula.

E quer saber o interessante disso tudo? Que mesmo depois de quase oito anos de mandato, o índice de aprovação desse brasileiro permanece espetacular. Pesquisa Ibope divulgada no mês passado mostrou que a aprovação do presidente é de 80%. E as atitudes dele também encontraram ressonância além-trópicos. Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou que Lula era “o cara”.

Como bom líder, Lula sabe que o reconhecimento não é o mais importante. Descobriu que o que vale é um antigo ensinamento de Jesus Cristo: quem quiser ser líder deve primeiro servir. Que este possa ser o lema de todos nós, políticos. Que vivamos o princípio de que nossa função primordial é servir a sociedade.

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