sábado, 22 de agosto de 2009

Desafios para Obama na América Latina


Mais de seis meses já se passaram desde que Barack Obama tomou posse e a América Latina continua sem saber se terá novidades em relação ao costumeiro esquecimento a que tem sido relegada pelas administrações norte-americanas, sejam elas republicanas ou democratas.

O principal executivo para a região, no posto do secretário assistente de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, o professor de Cambridge Arturo Valenzuela, respeitado pelos profundos conhecimentos sobre a América Latina, tem perfil idêntico ao do seu antecessor Thomas Cannon. Suas prioridades são abrir mercados e liberalizar o comércio, ou seja, estimular os negócios.

Na cúpula de Trinidad Tobago, em abril, Obama saiu-se muito bem. Foi uma simpatia, mesmo quando Hugo Chávez o presenteou com As Veias Abertas da América Latina, um livro escrito em 1971 pelo uruguaio Eduardo Galeano, e chegou a tomar notas no longo discurso de Daniel Ortega. Com Lula parece entender-se às mil maravilhas, tendo-se acostumado a apresentá-lo como uma curiosidade aos demais chefes de Estado dos países desenvolvidos.

Na verdade, nenhuma outra região no mundo oferece a Obama oportunidades tão razoáveis quanto a América Latina para exercer a diplomacia cooperativa que estabeleceu como objetivo de sua administração. À exceção da guerra das drogas no México, da guerrilha na Colômbia, das violências internas promovidas por Chávez contra seus opositores na Venezuela e das escaramuças em Honduras, a paz reina quase sem perturbações no continente.
A economia, segundo a Cepal, está saindo de uma contração de 1,9% este ano para um crescimento previsto de 3,1% em 2010, embora para o próximo ano os investimentos externos devam cair em 40%, prejudicando mais os países mais fracos, pois de cada dez dólares investidos na região, oito vão para Brasil, Chile e Colômbia. Obama poderia, por exemplo, reapresentar o Jubilee Act que perdoa integralmente as dívidas de 67 dos mais pobres países, entre os quais se encontram Bolívia, Honduras, Nicarágua e Haiti (a proposta, aprovada na Câmara, caiu no Senado, no ano passado), estendendo-o pelo menos em parte a outros países das Américas.

Contudo, na prática, as mudanças no modo de agir norte-americano não têm impacto ou reforçam os compromissos do passado. Em Honduras, a secretária de Estado Hillary Clinton não se saiu bem ao apoiar apressadamente um presidente que foi removido pelo Legislativo e pelo Judiciário do próprio país. Ao mesmo tempo nenhuma atitude até aqui foi tomada em relação a um fato similar, a inviabilização da gestão do prefeito de Caracas Antonio Ledezma, que fez greve de fome para pedir apoio da OEA.
O presidente venezuelano, como vingança por ter perdido as eleições na capital, retirou 93% do orçamento do município, impediu-o de arrecadar impostos e criou um cargo federal de chefe do governo em Caracas, e este passou a exercer as funções de Ledezma, expulso do próprio gabinete por ativistas ligados a Chávez. Outra frente de dificuldades é a rejeição de Cuba em retornar à OEA, cujo estatuto teria de ser contornado em seu artigo 3º, que exige do país-membro um sistema pluralista partidário e a realização de eleições periódicas, livres e secretas.

O problema maior hoje é a disposição dos Estados Unidos de instalar bases militares na Colômbia, aumentando sua área de manobra na área em relação a Manta, no Equador, que deixou de funcionar em julho porque o governo de Rafael Correa não renovou a concessão que vigia desde 1999. O presidente Álvaro Uribe explica: “Estamos convencidos de que se tivermos êxito na luta contra o flagelo universal do terrorismo (das Farc) e do narcotráfico, contribuiremos positivamente para a tranquilidade regional”. A movimentação dos EUA ao lançar uma larga sombra sobre a América do Sul reflete, também, a preocupação com o crescente comércio entre China e Brasil.

Esse quadro ganha em complexidade nos próximos dois anos, quando 18 países terão eleições, redesenhando quase que por inteiro o mapa político das Américas e do Caribe.

Vitor Gomes Pinto é escritor, analista internacional, autor do livro Guerra nos Andes

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