terça-feira, 5 de agosto de 2008

Não basta ter talento. Tem de fazer contatos

PALAVRA DA SEMANA: OLIMPÍADA. Embora “Olimpíadas” e “Jogos Olímpicos” sejam comumente empregados como sinônimos, “olimpíada” (do grego olumpiados) era o intervalo de quatro anos entre duas edições dos jogos disputados na cidade de Olímpia. É, portanto, sinônimo de “quatriênio” e foi oficialmente o modo de contar o tempo na Grécia, entre 776 a.C. e 394 d.C.
Fui ingênuo ao imaginar que se deve fazer aquilo de que se gosta. Formei-me em Comunicação Social e estou inutilmente procurando um emprego há 14 meses. – Raphael
A ingenuidade não está ligada à escolha do curso, Raphael, mas às informações prévias referentes ao mercado de trabalho. Você desembarcou num setor saturado, mas isso já não era novidade há cinco anos, quando você iniciou o curso. Embora não haja estatísticas disponíveis, eu chutaria que um em cada dez formandos de Comunicação Social consegue a vaga com a qual sonhava. Esse um é exatamente o que não ficou sonhando, e sim fez contatos proveitosos com profissionais da área, enquanto ainda estava na faculdade. Talento, competência e ambição constroem carreiras, mas é o networking que abre a porta.
Leio sua coluna com atenção e sinto falta de conselhos que encaminhem as pessoas para uma vida de meditação e espiritualidade. – Pastor Josiel
Meus respeitos, pastor Josiel. Creio que sua pertinente questão foi esclarecida por Jesus de Nazaré, em Mateus 22, 21. O objetivo desta coluna é tentar explicar a parte que deve ser dada a César, sem que isso implique renegar a parte, muito maior, que é devida a Deus.
Talento, competência e ambição constroem carreiras, mas é o networking que abre a porta
Estamos (meu marido e eu) investindo na formação de nossa filha. Ela tem 24 anos, cursou uma boa faculdade, passou um período no exterior para aprimorar o inglês e agora está fazendo mestrado. Sempre achamos que esse investimento seria plenamente recompensado, mas nos assustamos quando você escreveu que empresas dão igual peso aos estudos e à experiência prática (que nossa filha não tem). É isso mesmo? Estaríamos gastando os tubos para gerar uma brilhante desempregada? – Julia e Otávio
Num processo de seleção normal (isto é, nenhum dos candidatos tem um santo mais forte que os outros), uma empresa de fato avalia a formação acadêmica e a experiência prática. Sua filha tem uma ótima formação, mas, se surgir outra candidata com formação igual (ou até um pouco menos vistosa), mas com uma experiência interessante, principalmente no tocante a resultados mensuráveis, a possibilidade de essa pessoa ser contratada é maior. Isso está refletido nas estatísticas. Sua filha está na faixa de maior desemprego (jovens entre 18 e 25 anos, com curso superior). Mas não se assustem demais. O investimento que vocês estão fazendo certamente trará retorno, só que em médio e longo prazo.
O que você acha de uma carreira na política? – Mauro
É mais fácil que a carreira corporativa. Quase não requer estudo, proporciona estabilidade, independentemente dos resultados, e não desconta faltas não-justificadas. Além disso, o número de candidatos a uma vaga para vereador é muito menor que a de candidatos a estágio numa grande empresa. Algo que eu nunca consegui entender, porque um vereador ganha dez vezes mais que um estagiário. Se você tem os contatos e acredita possuir as habilidades para ser político (incluindo a arte de engolir eventuais batráquios), vá em frente. Caso você também tenha um bom sobrenome – por exemplo, “Da Farmácia” –, isso ajudará bastante.
Recebi uma ótima proposta para mudar de emprego, mas com um pequeno senão. Eu não seria registrada. – Lucy
Se você aceitar, Lucy, estará compactuando com a ilegalidade. O óbvio fato de que a carga tributária brasileira é altíssima não exime de culpa uma empresa que tenta melhorar sua competitividade por meio da sonegação. Já no aspecto pessoal, você pode achar a proposta ótima agora, mas não demorará a se arrepender de ser uma trabalhadora informal.

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