quarta-feira, 9 de julho de 2008

Inadimplência ‘real’ é o dobro da ‘oficial’

Atual projeção do Banco Central faz o cálculo da inadimplência dos brasileiros sem considerar o efeito do crédito consignado
São Paulo - A inadimplência do brasileiro é praticamente o dobro da apontada pelos dados do Banco Central (BC), se for excluído o crédito consignado, aquele com desconto na folha de salários e cujo pagamento líquido e certo.

Dados do último Relatório de Crédito divulgado pelo BC apontam que, em maio, as dívidas com pagamento atrasado acima de 90 dias correspondiam a 7,3% do total emprestado pelos brasileiros.

Nas estimativas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a inadimplência real, que exclui o efeito do consignado, é de 14,1%.

A projeção é conservadora e considera uma inadimplência do crédito consignado da ordem de 2%, no caso de algum imprevisto que impossibilite o desconto da parcela no salário, como morte de quem levantou o empréstimo ou quebra da empresa empregadora, por exemplo.

Se for considerado risco zero de falta de pagamento no crédito consignado, o nível de inadimplência do consumidor em geral é bem maior, chega a 16,6%.
“O crédito consignado está mascarando o real tamanho da inadimplência do consumidor”, afirma o economista chefe da ACSP, Marcel Solimeo.

Para ele, a relativa estabilidade da inadimplência apontada pelos dados do BC não é resultado do aumento do nível de emprego, mas efeito do crédito consignado que responde pela maior parte dos recursos emprestados para pessoas físicas.

Na análise do economista Humberto Veiga, consultor para o sistema financeiro da Câmara dos Deputados, a linha de crédito hoje com a taxa de calote mais elevada é a do cartão de crédito.

Em maio, a inadimplência do cartão acima de 90 dias estava em 25,23%, ante 7,3% para a média da pessoa física e 23,5% no mesmo período do ano passado para o cartão de crédito. “O aumento na inadimplência do cartão de crédito de 8,6% de 2007 para 2008 tem sido compensado pelas outras linhas de crédito”, diz Veiga. Nessa outras linhas, está o efeito do crédito consignado.
A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) contesta os dados do BC e informa que o nível de inadimplência no cartão de crédito é menor. Em maio, estava em 8,8%, ante 9% em abril e 9,3% em maio do ano passado.

A entidade esclarece que, nas suas contas considera o saldo em aberto no crédito rotativo, no parcelado sem juros e no parcelado com juros.
Já os números do BC são maiores porque não levam em conta o crédito parcelado sem juros que 65% das dívidas no cartão.

Apesar da relativa estabilidade apontada pelo BC, o índice de inadimplência líquida apurado pela ACSP atingiu em junho 5,7%, a maior taxa registrada para o período desde 2002, que havia sido de 8%. A inadimplência líquida é o saldo entre os novos carnes inadimplentes e os recuperados no mês dividido pelas vendas a prazo de três meses anteriores. “Acendeu o sinal de alerta amarelo”, afirma o economista Emilio Alfieri.

Ele pondera que o nível de calote do que foi em junho de 1998, quando chegou a 12,8% e muitas empresas quebraram. Mas, levando-se em conta que a tendência é de desaceleração da atividade, especialmente no ano que vem, o quadro da inadimplência começa a ficar incerto.
Cadastro positivoUma das alternativas para reduzir o risco de calote é a implantação de um cadastro positivo que leve não só as informações negativas dos cidadãos, mas também as negativas. Com informações positivas, o risco de crédito diminui e as taxas atuais de juros poderão cair pela metade, reduzindo também a inadimplência provocada pelos custos elevados. Ele calcula que, com o bureau positivo, a participação total do crédito no PIB, hoje de 35%, possa atingir 50% em cinco anos. (Folhapress)

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