domingo, 11 de abril de 2010

Devo, não nego, pago quando puder

Mesmo em queda, inadimplência preocupa o mercado. No primeiro trimestre, dívida dos goianos em cheques, boletos e outras, chegou a R$ 2,5 milhões
Ricardo César


Genésio Batista: ”Não podemos perder vendas”
Eles compram sem se preocupar com o pagamento. Às vezes, até se preocupam, mas não pagam. Consumidores de todas as idades são movidos pela compulsão, pela necessidade e até mesmo pela malandragem a dar o famoso calote na praça. Cheques sem fundo, boletos não pagos e dívidas não honradas foram responsáveis pela perda, mesmo que temporária, de cerca de R$ 2,5 milhões no primeiro trimestre deste ano, segundo estimativas das principais entidades de crédito de Goiás.

Com níveis de inadimplência na casa dos 2%, após ter amargado mais de 5% no segundo semestre de 2009, os goianos ocupam hoje a 18º colocação entre os Estados que mais registram maus pagadores no País, segundo a Serasa e a empresa TeleCheque. O setor comercial é o mais atingido pelos calotes. A qualidade do crédito em elevação, visível na abundância de crediários, é a principal causa deste efeito, na opinião de analistas, ao lado de um estímulo incisivo da publicidade.

Euforia do consumo“O comércio varejista trabalha com a margem de 5% a 6% de inadimplência, bem acima da média geral em Goiás, neste primeiro trimestre do ano, porque para eles é lucro apostar na euforia do consumo”, afirma o analista Marcos Rodrigues Queiroz. O gerente de renegociação da Flávio’s Calçados, Genésio Batista Franco Jr, confirma a tese. Ele diz que o setor trabalha com uma margem acima da média já que, com a economia estabilizada e as vendas aquecidas, não se pode perder vendas. “Estamos vivendo um momento histórico de redução da inadimplência e podemos apostar nisso”, diz.

O momento, conforme especialista, é de queda na inadimplência em Goiás. A boa safra deve continuar por todo o primeiro semestre, mas deve voltar a crescer no segundo. Para o analista financeiro Pedro Joaquim Silva, se o crédito ao consumo, que está crescendo fortemente nestes primeiros seis meses do ano, continuar neste ritmo, é inevitável que o endividamento também aumente na mesma proporção logo mais. “A velocidade de endividamento não está sendo acompanhada pela velocidade do aumento da renda e isso vai fazer com que os calotes aumentem em breve”, explica.

AlertaFaltando ainda oito meses para o fim do ano, a previsão do assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique Almeida, é de que 2010 feche com um quadro bastante favorável à inadimplência.

“Acho que temos um risco de registrarmos um segundo semestre de 2010 em que a inadimplência, que hoje está em queda, comece a demonstrar sinais de elevação. O risco do balanço do ano ainda existe”, analisa. Segundo ele, o movimento da inadimplência é cíclico. “As taxas de endividamento alcançaram níveis altos em 2009, com a crise mundial, e agora vêm caindo para depois subir”, prevê.

Mas nem para todo mundo a inadimplência é vista por maus olhos. Segundo o analisa Carlos Henrique Silva Amarato, isso significa que o aumento do endividamento é natural, pois ainda há espaço. Na sua opinião, o crescimento proporcional da inadimplência e das vendas não significa prejuízo. “Por enquanto não há razão para uma preocupação maior com a inadimplência”, pondera. A elevação exagerada das concessões de crédito, porém, pode fazer o endividamento aumentar a patamares preocupantes, diz o analista.

Bom momento“O risco de inadimplência sempre existe e muitas vezes ele pode até comprometer o bom momento que a gente está vivendo hoje. O mercado precisa saber é dosar o crédito que oferece”, avalia. Para ele, a estratégia correta é incentivar as vendas, mover a economia, com índices maiores do que os registrados na média da inadimplência.

“Assim, aumenta o acesso ao consumo e cresce o número de empregos, fazendo as engrenagens da economia rodar. Não é preciso ter medo de apostar em linhas de crédito. É preciso apenas ter cautela”, justifica.

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