Difícil falar do sentimento por alguém que, de fato, você não conheceu e que é trazido para perto tão só pela força midiática. Mas já faz parte da iconoclastia moderna aceitar os “desconhecidos” como parte de nossas vidas.
Tenho idade para ter visto na TV em preto-e-branco os Jackson Five dançando e cantando seus hits melosos e acompanhar a carreira fulminante do pequeno Michael. Foi desconcertante vê-lo quando ele reapareceu no Thriller.
No clipe, invenção dele, um novo Jackson dançando como se aqueles trejeitos fossem a coisa mais simples do mundo. O fascínio do cinema americano pelos zumbis, duendes, fadas, ETs e monstros condensados em cinco minutos de uma superprodução feita para milhões. Confesso que aquilo nunca mais me saiu da cabeça. Um Michael tão jovem, tão belo e tão ágil. A estrela sobe.
E tudo se desmanchou como num conto de fadas de horror, onde o personagem principal decide abandonar a glória das grandes conquistas e contenta-se com a lama do caminho. Não alimentando o mito do herói e expondo sua parcela comum, humana. Michael optou pela incoerência. Incoerência tão própria de nossos tempos. Um mundo onde, como nos idos de 1980, nos preocupamos com um maluco que a qualquer momento pode disparar um míssil nuclear. Uma sociedade tão preocupada em salvar e ainda tão eficiente em matar.
Lembrando a trajetória de nossa civilização, o menino pobre e talentoso se transformou no ídolo rico e infeliz. Michael, sem querer, foi o resumo de tudo isso. Talvez para o nosso mundo tanto quanto para ele faltam as qualidades de outra natureza que não as do valor externo e a busca desenfreada pelo ter. E a estrela desce.
Não acredito que deva-se viver para sempre. Mas é triste ver alguém morrendo desta forma. Também não acredito que o mundo acabe de uma vez, como insinuam aqueles que possuem as armas para destruí-lo. O mundo acaba de outro modo. Assim, aos pouquinhos.
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