Pandemia de gripe suína se mostrou menos perigosa do que se temia.Entretanto, com o tempo, vírus pode se tornar mais ameaçador.

Ele já está fazendo um trabalho quase perfeito em se manter vivo ao invadir narizes humanos e induzir as pessoas a tossir umas nas outras, disse o Dr. W. Ian Lipkin, diretor do Centro de Infecção e Imunologia da Escola de Saúde Pública Mailman, na Universidade de Columbia. “Uma gripe realmente agressiva que mata seus hospedeiros” – como a SARS e a gripe aviária H5N1 – “cria um problema para si mesma”, disse Lipkin.
O novo vírus foi descrito como “um verdadeiro vira-lata” por Walter R. Dowdle, ex-chefe de virologia do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Isso acontece graças à sua mistura única de genes humanos, aviários e suínos da Eurásia e da América. Os cromossomos da gripe são bastante simples – oito curtas tiras de RNA que emitem o código genético para um total geral de onze proteínas. Eles se dividem numa confusão dentro das células infectadas, e então se reúnem novamente, coletando partes aleatórias de outras gripes, o que torna o resultado imprevisível.
O atual subtipo de gripe suína não possui diversos genes aos quais se atribui aumento de letalidade, incluindo aqueles capazes de codificar para duas proteínas conhecidas como PB1-F2 e NS-1, e outro que codifica para um trava-língua chamado “local de segmentação de hemaglutinina polibásica”.
A PB1-F2 parece enfraquecer a membrana protetora da mitocôndria, produtora de energia numa célula infectada, acabando por matar a célula. Especificamente, ela ataca células dendríticas, as sentinelas do sistema imunológico. Sua letalidade poderia ser acidental – uma proteína boa em matar sentinelas pode muito bem sair matando outras células, quando já está dentro do forte. Todas as gripes pandêmicas, incluindo aquelas das gripes espanhola, asiática e de Hong Kong, produzem PB1-F2 – assim como a gripe aviária H5N1.
O atual subtipo suíno é uma exceção. A proteína NS-1 também mutila a reação imunológica ao bloquear o interferon, uma proteína antiviral feita pelas células. Gripes aviárias muito letais também possuem o incomum local de segmentação, o que permite à hemaglutinina perfurar a casca do vírus com o objetivo de rachar e injetar suas instruções genéticas em diferentes tipos de células – como aquelas dos pulmões e dos intestinos.
Uma adição como essa à novela do H1N1 seria muito perigosa. Porém, como ela foi encontrada apenas em gripes aviárias, é improvável que se torne um componente de uma gripe humana, explicou Palese. Mesmo o vírus de 1918, de origem aviária, era desprovido desse fator. Uma alteração muito mais provável, dizem os cientistas, é da gripe suína H1N1 se tornar resistente ao medicamente antiviral Tamiflu. Um gene para resistência ao Tamiflu é hoje quase universal em gripes H1N1 sazonais.
Se isso acontecer, os estoques mundiais de Tamiflu perderão completamente seu valor. Médicos serão obrigados a substituí-lo pelo Relenza, um pó utilizado via inalador, o que o torna mais caro e difícil de ingerir. Dependendo da mutação, remédios antivirais mais antigos – como o rimantadine – podem ser úteis, mas as gripes sazonais já desenvolveram tanta resistência a ele que acabou sendo abandonado há alguns anos atrás. Palese foi questionado sobre outra noção que diz respeito a prováveis mutações.
Causou ultraje a decisão do Egito de matar todos os porcos pertencentes a sua minoria Ortodoxa Copta. A ideia foi descrita como errônea e motivada por intolerância religiosa, pois a “gripe suína” hoje se tornou, na verdade, uma gripe humana. Entretanto, o Egito também está numa situação especialmente perigosa. A nova gripe suína chegou lá somente na semana passada. A gripe aviária H5N1 tem circulado em suas galinhas de quintal desde 2006, desafiando todos os esforços de erradicação.
No ano passado, dúzias de casos de H5N1 foram confirmadas em bebês, e quase todos sobreviveram – o que levou alguns peritos a especular que aqueles casos seriam de uma versão menos letal de H5N1, melhor adaptada a humanos. Nesse caso, seria sábio se livrar da relativamente pequena população de porcos do país. Porque eles estariam “misturando vasos” que podem contrair gripes tanto humanas quanto suínas?
“Eu concordo com a premissa, se você realmente conseguisse eliminar um reservatório animal”, disse Palese. “Mas o vírus está sem porcos agora – e é mais importante que aquelas pobres pessoas tenham algo para comer”.
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