domingo, 14 de junho de 2009

Cientistas estudam como uma gripe tranquila pode se tornar brutal

Pandemia de gripe suína se mostrou menos perigosa do que se temia.Entretanto, com o tempo, vírus pode se tornar mais ameaçador.


A gripe suína está rapidamente dando sua volta ao mundo, mas até agora tem sido relativamente leve, causando apenas 139 mortes confirmadas. Poderia ela sofrer uma mutação para algo mais letal? Cientistas, através de exames da estrutura genética, dizem que não há uma pressão óbvia para que ela faça isso – nenhum motivo para o vírus “querer”, no sentido darwiniano, matar mais de seus hospedeiros.
Ele já está fazendo um trabalho quase perfeito em se manter vivo ao invadir narizes humanos e induzir as pessoas a tossir umas nas outras, disse o Dr. W. Ian Lipkin, diretor do Centro de Infecção e Imunologia da Escola de Saúde Pública Mailman, na Universidade de Columbia. “Uma gripe realmente agressiva que mata seus hospedeiros” – como a SARS e a gripe aviária H5N1 – “cria um problema para si mesma”, disse Lipkin.


O novo vírus foi descrito como “um verdadeiro vira-lata” por Walter R. Dowdle, ex-chefe de virologia do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Isso acontece graças à sua mistura única de genes humanos, aviários e suínos da Eurásia e da América. Os cromossomos da gripe são bastante simples – oito curtas tiras de RNA que emitem o código genético para um total geral de onze proteínas. Eles se dividem numa confusão dentro das células infectadas, e então se reúnem novamente, coletando partes aleatórias de outras gripes, o que torna o resultado imprevisível.
O atual subtipo de gripe suína não possui diversos genes aos quais se atribui aumento de letalidade, incluindo aqueles capazes de codificar para duas proteínas conhecidas como PB1-F2 e NS-1, e outro que codifica para um trava-língua chamado “local de segmentação de hemaglutinina polibásica”.
A PB1-F2 parece enfraquecer a membrana protetora da mitocôndria, produtora de energia numa célula infectada, acabando por matar a célula. Especificamente, ela ataca células dendríticas, as sentinelas do sistema imunológico. Sua letalidade poderia ser acidental – uma proteína boa em matar sentinelas pode muito bem sair matando outras células, quando já está dentro do forte. Todas as gripes pandêmicas, incluindo aquelas das gripes espanhola, asiática e de Hong Kong, produzem PB1-F2 – assim como a gripe aviária H5N1.
O atual subtipo suíno é uma exceção. A proteína NS-1 também mutila a reação imunológica ao bloquear o interferon, uma proteína antiviral feita pelas células. Gripes aviárias muito letais também possuem o incomum local de segmentação, o que permite à hemaglutinina perfurar a casca do vírus com o objetivo de rachar e injetar suas instruções genéticas em diferentes tipos de células – como aquelas dos pulmões e dos intestinos.
Uma adição como essa à novela do H1N1 seria muito perigosa. Porém, como ela foi encontrada apenas em gripes aviárias, é improvável que se torne um componente de uma gripe humana, explicou Palese. Mesmo o vírus de 1918, de origem aviária, era desprovido desse fator. Uma alteração muito mais provável, dizem os cientistas, é da gripe suína H1N1 se tornar resistente ao medicamente antiviral Tamiflu. Um gene para resistência ao Tamiflu é hoje quase universal em gripes H1N1 sazonais.
Se isso acontecer, os estoques mundiais de Tamiflu perderão completamente seu valor. Médicos serão obrigados a substituí-lo pelo Relenza, um pó utilizado via inalador, o que o torna mais caro e difícil de ingerir. Dependendo da mutação, remédios antivirais mais antigos – como o rimantadine – podem ser úteis, mas as gripes sazonais já desenvolveram tanta resistência a ele que acabou sendo abandonado há alguns anos atrás. Palese foi questionado sobre outra noção que diz respeito a prováveis mutações.
Causou ultraje a decisão do Egito de matar todos os porcos pertencentes a sua minoria Ortodoxa Copta. A ideia foi descrita como errônea e motivada por intolerância religiosa, pois a “gripe suína” hoje se tornou, na verdade, uma gripe humana. Entretanto, o Egito também está numa situação especialmente perigosa. A nova gripe suína chegou lá somente na semana passada. A gripe aviária H5N1 tem circulado em suas galinhas de quintal desde 2006, desafiando todos os esforços de erradicação.
No ano passado, dúzias de casos de H5N1 foram confirmadas em bebês, e quase todos sobreviveram – o que levou alguns peritos a especular que aqueles casos seriam de uma versão menos letal de H5N1, melhor adaptada a humanos. Nesse caso, seria sábio se livrar da relativamente pequena população de porcos do país. Porque eles estariam “misturando vasos” que podem contrair gripes tanto humanas quanto suínas?
“Eu concordo com a premissa, se você realmente conseguisse eliminar um reservatório animal”, disse Palese. “Mas o vírus está sem porcos agora – e é mais importante que aquelas pobres pessoas tenham algo para comer”.

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