sábado, 12 de fevereiro de 2011

Cuidado com as lembranças

Chego em Madrid às 8 da manhã. Vou ficar apenas algumas horas, não adianta telefonar para amigos, marcar algum encontro. Resolvo caminhar sozinho por lugares que gosto, e termino fumando um cigarro num banco do parque Retiro.

- Você parece que não está aqui – diz um velho, sentando-se ao meu lado.- Estou aqui – respondo. – Só que há doze anos atrás, em 1986.

Sentado neste mesmo banco com um amigo pintor, Anastasio Ranchal. Nós dois estamos olhando minha mulher, Christina, que bebeu além da conta, e está fingindo que dança flamengo.
- Aproveite – diz o velho. – Mas não esqueça que a lembrança é como o sal: a quantidade certa dá tempero a comida, mas o exagero estraga o alimento. Quem vive muito no passado, acaba sem presente para recordar.

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