terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Correntista se afunda no especial

Levantamento do BC mostra que o uso do cheque especial cresceu 23,5% em um ano. Dívida chega a R$ 16 bi


O brasileiro está cada vez mais pendurado no cheque especial, apesar dos juros exorbitantes que deveriam afugentar qualquer pessoa. Muita gente comete o grave equívoco de considerar esse dinheiro extra uma extensão de sua renda mensal, gerando um grande endividamento depois de uma certo período. Essa dependência ficou ainda maior depois do agravamento da crise financeira.

Um levantamento do Banco Central revela que, no último mês de dezembro, os brasileiros deviam R$ 16,042 bilhões no cheque especial, um volume 23,5% maior que no mesmo período de 2007,quando a dívida era de R$ 12,9 bilhões. No último mês de 2009, o consumidor ficou, em média, 21 dias com a conta no vermelho, mesmo com a ajuda do décimo terceiro.

O problema é o elevado custo deste dinheiro. Segundo a Pesquisa Mensal de Juros feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média de juros do cheque especial em dezembro e janeiro foi de 7,91%ao mês e 149,31% ao ano. Isso para uma taxa básica de juros (Selic) de 12,75% ao ano.

O empresário Humberto Soares Moura conhece bem o peso de uma dívida como essa. Ele conta que, depois de esgotar o limite de R$ 2 mil, seu banco elevou o crédito para R$ 3 mil, que também foi utilizado depois que a crise reduziu o volume de seus negócios.

Dois meses depois, a dívida já era de R$ 3.840,00. Para não ser negativado, ele parcelou a dívida no banco em 24 parcelas mensais de R$ 350, o que elevou o valor para R$ 8,4 mil, po causa de uma taxa mensal de 8,6%. “Isso me gerou muitos problemas. Quando terminar de pagar, não quero mais ter de usar de novo.”

O economista Marcus Antônio Teodoro, mestre em Finanças e autor do livro Erros e Acertos na Gestão do Dinheiro (Editora RF 2ª edição), lembra que a metodologia de cálculo utilizada pelos bancos, que embute outros custos, encarece ainda mais o valor da dívida no final. Daí a exigência de apresentação do Custo Efetivo Total (CET) nas operações de crédito.

Uma pessoa que utiliza o limite de R$ 1 mil do cheque especial por seis meses, com juros mensais de 8%, terá uma dívida de R$ 1,4 mil no final deste período. Essa diferença, literalmente jogada fora, é suficiente para comprar uma televisão de 21 polegadas. Para Marcus Teodoro, o problema está na facilidade de acesso ao crédito. “O dinheiro está na conta a qualquer hora. Não precisa nem ligar para o gerente, por isso acaba se tornando uma renda extra. Mas, na verdade, é uma grande despesa”, alerta o economista.

Ele adverte que a melhor alternativa é não usar esse dinheiro. Se precisar, é melhor liquidar a dívida o quanto antes. “É o mesmo que refinanciar a dívida com cartão de crédito”, destaca.

Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, economista coordenador da pesquisa da Anefac, o problema é que o brasileiro não tem nenhum conhecimento sobre juros. Uma pesquisa da instituição revelou que 95% dos brasileiros entram num financiamento sem saber qual a real taxa de juros embutida nas prestações. “Mesmo que a taxa seja de 12% ao mês, ele ignora. Só quer saber se a prestação cabe no bolso”, informa.

De acordo com o Banco Central, a taxa cobrada no cheque especial alcançou 174,9% ao ano, o maior valor desde junho de 2003, quando ela estava em 176,9%. Isso significa que, em 2008, os juros do cheque especial avançaram 36,8 pontos porcentuais, pois fecharam 2007 em 138,1% ao ano

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