sábado, 21 de fevereiro de 2009

BA: Em bloco de carnaval, “Jegue de Cueca” casa com “Jega de Calçola”

O carnaval de Salvador começou ontem, com direito a Rei Momo (o cantor Gerônimo), entrega de chaves da cidade e todos os ritos de acolhida da folia.

O que ninguém poderia esperar é que, na manhã seguinte, um jegue de cueca estivesse entre os foliões do carnaval baiano. E pior ainda: atrás da noiva, a jega de calçola.

Realizado na Península de Itapagipe - um pouco distante dos circuitos mais badalados do carnaval - o Encontro do Jegue de Cueca com a Jega de Calçola retoma uma tradição interrompida há mais de trinta anos.

Nesta sexta-feira, às 10h, dois cortejos começam a desfilar pelas ruas da Península: um saindo em frente ao Bahia OutLet Center (no bairro do Uruguai) e o outro, da Associação Tenda de Olorum (em Massaranduba).

- Usamos o velho e bom celular para garantir a saída simultânea dos cortejos - diz Wanderley, um dos organizadores do bloco.

Os cortejos do jegue e da jega percorrem ruas do Massaranduba e Uruguai, respectivamente, animados por um conjunto de músicos e com o acompanhamento de dois animais (de verdade!) enfeitados.

Encontram-se no Largo do Papagaio, onde é realizado, com muita pompa e circunstância, o seu festivo e carnavalesco casamento. Lá, forma-se um grande bloco.

Ambos os animais vão vestidos à caráter: além das peças íntimas, usam elementos decorativos, dignos da ocasião. Além deles, muitos foliões vestem não apenas cuecões e calçolões, mas também as orelhas características dos equinos.

Após as merecidas reverências ao casal, o cortejo segue até a Beira Mar para um refrescante banho de mar a fantasia, como uma releitura da manifestação de outrora que era realizada na madrugada.

Em sua versão contemporânea, o Encontro ocorreu apenas uma vez, no carnaval de 2008. Participaram dele cerca de 800 pessoas, mesmo número esperado para a 2a. edição do evento.
Considerado uma “Mudança” (bloco que traz críticas sociais e políticas), a presença do jegue e da jega referia-se antigamente às condições precárias dos bairros quando o animal transportava para os moradores desde gêneros alimentícios até mesmo água, logo que não havia abastecimento d’água na região.

- Agora o jegue é quase um animal em extinção por aqui. Quase não existe mais como meio para transportar as coisas. Fazemos uma releitura, mantendo o aspecto satírico da atividade - diz Gilcinéa Barbosa, arquiteta e membro do Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA), que integra o Colegiado Local de Cultura, organizador da atividade.

Antes, os cortejos saíam na madrugada de sábado para domingo. Gilcinéa também explica a mudança de data e horário:

- Antigamente era uma iniciativa de boêmios, que abria o carnaval. Agora o tempo é outro. O carnaval começa mais cedo e por conta da violência, fazemos o bloco pela manhã. Assim crianças e outras pessoas também podem participar, e não apenas os boêmios - argumenta.

A retomada do Encontro faz parte de uma série de atividades (como festas juninas, quadrilhas, reza de Santo Antônio etc.) que o Colegiado de Cultura da Península de Itapagipe está resgatando para incentivar o convívio na cidade baixa através da cultura.

Roteiro dos cortejos:
Uruguai (Jega de Calçola)Saída em frente ao Bahia OutLet Center, segue pela Rua do Uruguai, Rua Araújo Bulcão, Travessa da Esperança, Rua Marechal Teixeira Lote, Rua Nilton França, Rua do Uruguai, Praça do Uruguai, Rua Bela Vista, Rua Resende Costa, Rua Demóstenes Paranhos, Rua Lopes Trovão, Largo da Massaranduba, Rua Carlos Lopes, Avenida Caminho de Areia, Largo do Papagaio.

Massaranduba (Jegue de Cueca)Saída da Associação Tenda de Olorum, segue pela Rua Lopes Trovão, Rua Juracy Magalhães, Largo Juracy Magalhães, Rua Genésio Sales,Praça da Redenção, Rua Santos Titara, Travessa maestro Wanderlei, Rua Coronel Filinto Sampaio, Rua Rafael Uchoa, Rua Capitão Vicêncio Constantino Figueiredo, Rua Rubens Amorim, Rua Jorge Leal Gonçalves, Travessa Vila união, Avenida Porto dos Mastros, Largo do Papagaio

0 Comentar: