domingo, 25 de maio de 2008

Aumenta a Inadimplência no Financiamento de Carro.


Cresce o índice de prestações em atraso, mas mercado vê situaçãosob controle. Consumidor pede recálculo de parcelas vencidas

Com a ampliação dos prazos de financiamento de veículos, que chegaram até a 84 meses e resultaram numa verdadeira explosão de vendas nos últimos anos, um problema já previsto pelo mercado começou a se confirmar: o aumento da inadimplência.
Dados do Banco Central mostram que a inadimplência - falta de pagamento por prazo superior a 90 dias - entre os consumidores que financiaram veículos passou de 3,1% em janeiro para 3,3%, em março. O salto representa um aumento de 6,45%.
No Procon-Goiás, das 1.569 solicitações de recálculo de prestações de carnês em atraso no mês de abril, 90% eram de financiamentos de veículos.
No País, nos três primeiros meses do ano, as carteiras de financiamento (CDC) e leasing somaram R$ 120 bilhões, crescimento de 43,9% sobre o mesmo período do ano passado, quando elas representavam R$ 83,4 bilhões, conforme dados da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).
Segundo a Anef, a inadimplência com mais de 90 dias passou de 3,29% em março de 2007 para 3,31% em março de 2008, um índice considerado sob controle. Para o presidente da Anef, Luiz Montenegro, apesar disso, a inadimplência ainda continua em patamares aceitáveis e abaixo da média do mercado como um todo.
Esperado
Para o diretor executivo de Economia da Associação Nacional dos Executos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Carlos Alberto Ercolin, o crescimento da inadimplência já era esperado pelo mercado. “O aumento do crédito de hoje é o aumento da inadimplência amanhã”, lembra Carlos Alberto.
As empresas podem optar por restringir o crédito e vender pouco ou afrouxar as exigências e vender mais. Optaram pela segunda opção. O resultado é que milhares de consumidores, que fizeram dívidas no fim do ano, não conseguiram honrar o financiamento do veículo. Isso por causa do acúmulo das dívidas com as tradicionais contas do primeiro trimestre, como IPTU, matrículas e material escolar.
Descontrole
O subgerente Adail José de Souza procurou o Procon-Goiás para pedir o recálculo de uma prestação de R$ 864, que subiu para R$ 1.173, por causa do atraso de 50 dias. Adail, que financiou um carro em 36 parcelas e já pagou 29, conta que o problema foi causado por um descontrole financeiro. “Essa cobrança é absurda”.
O autônomo José Lucerio Ribeiro de Souza também procurou a ajuda do órgão para questionar o valor de uma parcela de R$ 1.150, que chegou a mais de R$ 1.400, depois de alguns dias. “Tive um descontrole financeiro. No meu trabalho, nem sempre entra dinheiro como se espera”, justifica o trabalhador.
Para o diretor da Anefac, a inadimplência deve continuar em alta, mas não em patamares alarmantes porque o mercado ficou mais cauteloso depois da crise de crédito americana. Com isso, os prazos de financiamento foram reduzidos em janeiro e fevereiro. Na média, os negócios fecharam em 48 meses. “O mercado brasileiro foi alertado pela crise americana, que foi até educativa neste ponto”, argumenta.
Carlos Alberto lembra que, há pouco tempo, o mercado estava muito acelerado e o consumidor era quase “pego à laço” na rua pelas concessionárias. Hoje, a exigência de apresentação da taxa do Custo Efetivo Total (CET) deu mais transparência ao mercado e ajudou a mostrar ao consumidor o alto custo de um financiamento, apesar de muita gente ainda não ser informado sobre ela.
Para ele, o maior problema é a falta de planejamento das finanças. “O brasileiro tem uma educação financeira muito ruim”, disse.