Mulheres, cada vez mais, decidem os gastos da família

Na compra do carro, do imóvel, de roupas e no orçamento, elas sempre dão a palavra final
Lúcia Monteiro

Além de cuidar da casa e da filha Maria Eduarda, a dona de casa Luana Cristina Xavier Moura também ajuda o marido no atendimento aos clientes da microempresa de prestação de serviços. Mesmo não sendo responsável pelo sustento da casa, ela garante que sempre dá a palavra final na hora de definir como administrar o orçamento da família e o que comprar: desde os alimentos até o modelo do carro ou a construção da casa. “Em toda a compra, ele pede minha opinião e aprovação. Hoje, o casal precisa decidir tudo junto, mas a última palavra é a minha”, afirma.

A empresária Francielle Soares Grunstinsk também garante que o marido divide com ela todas as decisões de compra da família e diz que ficaria muito aborrecida se ele tomasse alguma decisão relacionada ao orçamento da casa sem consultar sua opinião. Foi ela, por exemplo, quem escolheu o modelo do carro da família, e quem compra até as roupas que o marido vai usar, já que ele confia no gosto dela. “Hoje, a maioria de minhas amigas decide todas as compras junto com o marido, mesmo as que não trabalham fora”, conta.

PesquisaLuana e Francielle confirmam o resultado de uma pesquisa realizada pela Sophia Mind Pesquisa e Inteligência de Mercado, com 2 mil brasileiras: 77% das mulheres têm ao menos metade do poder de decisão das compras domésticas. Cerca de 33% delas responderam que a decisão de como administrar o orçamento de casa é bem dividida com outras pessoas, enquanto 26% decidem a maior parte e 18% decidem tudo sozinhas.

Outras 18% decidem pouco, mas dão sua opinião, e apenas 4% não interferem em nada. Considerando o estado civil, 44% das casadas dividem as decisões e, entre as divorciadas, 58% decidem tudo sozinhas. Além da influência nas decisões de compra, as mulheres também ajudam a pagar as contas: 42% das casadas sempre dividem as despesas da casa, enquanto 49% das separadas pagam tudo sozinhas.

Uma das principais causas dessa importância feminina nas decisões de compra da família é a crescente participação delas no mercado de trabalho, que subiu de 39% para 60% em 17 anos no Brasil. Elas ocupam cargos cada vez melhores e ganham cada vez mais. “Hoje, todos os segmentos de varejo, desde roupas até automóveis e imóveis, têm estratégias de marketing voltadas para a mulher”, lembra Geraldo Rocha, consultor de varejo da Partner Corporate.

Segundo ele, desde o lançamento de um produto, a estratégia empresarial está voltada para o público feminino, que é quem decide a compra. “Elas compram até as roupas do marido e batem o martelo na compra do carro e da casa”, completa o consultor. Ele conta que a construção dos prédios das empresas varejistas já considera as preferências da mulher, como o formato do estacionamento. “Muitas não gostam de estacionar no subsolo e preferem um estacionamento externo. Isso pode definir o sucesso ou não de um empreendimento de varejo”, alerta.

Bem -estarDiferentemente dos homens, que priorizam gastos pessoais, as consumidoras pensam muito no bem-estar da família. Com cada vez mais dinheiro no bolso, elas gastam muito com comida, saúde e bens duráveis, como eletrodomésticos. Entre os clientes cadastrados nas lojas de móveis e eletrodomésticos Novo Mundo, 59% são mulheres. Mas o gerente comercial da rede, José Roberto de Souza, acredita que o poder de decisão das mulheres nas compras seja ainda maior porque muitas compram no nome dos maridos, apesar de decidirem a compra.

Segundo ele, hoje o homem se limita a comprar aparelhos de TV e home teather. Mesmo assim, a mulher vai junto para ajudar na escolha. Por isso, a estratégia de mídia da rede é toda voltada para elas, como os anúncios na edição de domingo do POPULAR, que são colocados no caderno Magazine TV, mais lido pelo público feminino. “A mídia de TV acontece nos intervalos de programas como o Mais Você e das novelas, e não do futebol, por exemplo”, destaca José Roberto. Até os tablóides de anúncios buscam ter um visual mais feminino