segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Com classe média endividada, varejo tenta vender para classe D


São Paulo – A antecipação do consumo de carros, máquinas de lavar, fogões e geladeiras, patrocinada pela política anticíclica do governo federal, reduziu a capacidade de compra desses itens pela nova classe média brasileira.

Para manter as vendas aquecidas após o fim do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que terminou em janeiro para a linha branca e expira no fim de março para os carros, o comércio de bens duráveis começa a mirar as famílias de menor renda, da classe D, como potenciais consumidores.

Com renda de até quatro salário mínimos mensais (R$ 2.040), essas famílias tiveram até agora pouco acesso a financiamentos. Por isso, estão menos endividadas em relação às famílias das classes B e C. Revendas de veículos, por exemplo, já estudam a possibilidade de alongar prazos de pagamento até 120 meses para fazer com que a prestação se “encaixe” na renda. Com isso, o varejo abre o leque de consumidores.

Apesar de não admitirem publicamente, lojas de eletrodomésticos querem chegar ao Dia das Mães com prazo de financiamento superior a 18 meses para reduzir ainda mais o valor das prestações.

Os sinais de que o ritmo de compras de bens duráveis deve diminuir e de que as indústrias começam a tirar o pé do acelerador da produção para se ajustar às mudanças do mercado já apareceram em duas pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e outra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

ExpectativasPelo segundo mês consecutivo, o Indicador de Expectativas de Compra de Bens Duráveis da FGV, que sinaliza a intenção de consumo para os próximos seis meses, caiu em janeiro. Fechou o mês em 81,4 pontos, a menor marca em oito meses e abaixo da média de cinco anos (82,8 pontos).

A queda acumulada do índice entre novembro de 2009 e janeiro deste ano foi de 3,2%.

A sondagem industrial da FGV mostra que, em outubro do ano passado, 43,1% das indústrias de bens duráveis consideravam o mercado interno forte. Em janeiro, esse indicador caiu para 31,1%.
No caso da produção de bens duráveis prevista para três meses, incluindo o mês em curso, 57,9% das indústrias esperavam em outubro de 2009 aumento da produção; em janeiro, esse indicador recuou para 33,5%.

O uso da capacidade instalada das fábricas de bens duráveis, outro termômetro do ritmo de produção, também diminuiu no período: estava em 91,4% em outubro de 2009 e recuou para 89,1% em janeiro.
Está havendo um freio de arrumação na produção de bens duráveis, provocado pelo aumento do endividamento das famílias e pela volta do IPI”, disse o coordenador de Sondagens Conjunturais da FGV, Aloisio Campelo. Ele ressalta que os dados da produção industrial do IBGE confirmam a tendência.

Em dezembro, a produção total da indústria caiu 0,3% na comparação com novembro, descontadas as influências sazonais. A retração foi provocada pelo recuo de 4,9% nos bens de consumo duráveis, que inclui a queda de 1,2% na produção de veículos no período. Isoladamente, empresas e setores da indústria não admitem que estejam reduzindo o ritmo para atenuar os efeitos da ressaca do consumo dos últimos meses.

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