quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Zilda Arns: missão de salvar vidas

A médica e sanitarista Zilda Arns Neumann foi, nas últimas décadas, uma das mulheres mais respeitadas do Brasil. Criou e dirigiu a Pastoral da Criança, responsável em grande parte pela redução da mortalidade infantil no Brasil, e, mais recentemente, fundou a Pastoral da Pessoa Idosa. Meu último contato com ela foi em sua derradeira vinda a Goiânia, para orientar e incentivar o trabalho dos voluntários. Depois de um longo tempo com os repórteres, se dispôs a conversar comigo para o Jornal Brasil Central, da Arquidiocese de Goiânia.

Dra. Zilda era médica por vocação. Ela completou, em dezembro passado, 50 anos na profissão. Na conversa, disse ter feito medicina à revelia do pai, que a queria professora, como os demais irmãos que atuavam na educação. De família muito católica, uniu o trabalho na Igreja a um trabalho de promoção da vida. “Deus me preservou para uma grande missão: dedicar-me, com toda a minha força e todos os meus talentos, a reduzir a mortalidade infantil através de um trabalho de Igreja, de educar as famílias para aprenderem a cuidar dos filhos”, afirmou.

A Pastoral da Criança surgiu para ensinar as famílias, principalmente as mais pobres, a usar o soro caseiro. Um simples gesto que salvou milhões de vidas. Para mim era – como para muita gente ainda pode ser – uma incógnita como uma ação eminentemente voluntária pudesse ser realizada com tamanho sucesso. Tirei minhas dúvidas no contato com Zilda Arns. Sua presença encantava e suas palavras convocavam qualquer um que se aproximasse. “Alguns diziam que isso deveria ser cobrado do governo. Outros questionavam, dizendo que eu deveria evangelizar e não pesar crianças. Eu unia fé com vida, evangelizava e cuidava”.

De família com bispo, padres e religiosas, por que não ser freira? Com a sabedoria dos anos e a certeza do dever cumprido, ela me respondeu: “Eu não queria ser freira, mas missionária. Se me perguntavam por que não quis ser freira, dizia que não gostava de obedecer. Eu gostava de ter liberdade. Eu tinha que ser livre. Até uma freira dizia assim: ‘Deixa a Zilda voar, que ela voa longe, não pode proibir isso ou aquilo’.”

Sobre seu cotidiano, na chácara em que morava, contou que acordava cedo e ficava escutando passarinhos. “É um momento de encontro com Deus todas as manhãs.”

Ela também me falou dos sonhos para o futuro, interrompido bruscamente: levar adiante a Pastoral Internacional da Criança. Daí suas viagens a outros países. Outro sonho era escrever um livro sobre a experiência de vida. Zilda Arns, 75 anos, deixa o exemplo de que gestos pequenos podem, aos poucos, ajudar a mudar o mundo.

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