sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quem foi John Lennon antes da fama



Sua vida na infância e adolescência foi uma tragédia. Viveu longe da mãe, não conheceu o pai e viu parentes queridos morrerem. John Lennon foi criado pelo tio George (David Threlfall) e pela tia Mimi (Kristin Scott Thomas) – irmã da mãe biológica, a espevitada Julia (Anne-Marie Duff). O filme O garoto de Liverpool mostra por que ele não viveu com a mãe, com quem aprenderia a tocar banjo e curtiria uma amizade quase incestuosa aos 15 anos. Ela o apresentou ao rock’n roll, que dizia ser sinônimo de sexo. A história dela vai ajudá-lo a entender o que isso significa; e talvez as coisas da vida real não fossem tão dualistas quanto ele pensava… O longa se baseia nos diversos livros que tentaram retratar a história do criador tão paz e amor de “Imagine”.

Além de ser um jovem audacioso, Johnn Lennon nunca encontrou a compreensão que talvez desejasse. Certa vez, depois de abaixar as calças para uma garota com quem flertava (e esse verbo, “flertar”, é puro eufemismo perto do que ele era), foi chamado na diretoria da escola. “No momento, você vai a lugar nenhum”, disse o diretor. “Lugar nenhum é lugar para os gênios? Provavelmente lá é meu lugar”, respondeu o adolescente rebelde.

O garoto de Liverpool (Nowhere boy, em inglês, ou o Garoto de lugar nenhum, na tradução literal) não chega a ser uma obra cinematográfica monumental. É obra menor, que pretende mostrar um pouco do que foi Lennon antes da fama, e não esboçar retratos definitivos.

É uma história triste, sem dúvida. O filme parece ser feito para chorar, e muita gente vai fazer isso.

As duas mulheres de Johnn: Julia e Mimi
Aaron Johnson (de olhos exaustivamente mostrados azuis, contra os verdes do músico) está ótimo no papel de Lennon; um pouco mais robusto do que fora o músico, talvez. E ainda melhor do que foi em Kick-Ass (leia aqui o que escrevi sobre o filme), embora os papéis não tenham a ver um com o outro. Segundo o produtor Robert Bernstein, a última dama de Lennon, Yoko Ono, viu o filme e gostou muito do desempenho do rapaz – e ela tem seus motivos, ainda que tenha conhecido o beatle muito depois. Kristin Scott Thomas (Ricardo III , Destinos Cruzados, Lua de Fel, Bons Costumes, O Paciente Inglês) como a tia Mimi dá um show de interpretação – só que as biografias de Lennon não a têm tão dura quanto ela aparece em O garoto de Liverpool. Foi ela quem deu seu primeiro violão, e foi ela quem tirou o instrumento depois de saber de suas notas baixas no colégio.

Lennon não estava nem aí para a escola. Queria mais era tocar. E, quando montou a banda The Quarrymen, conheceu Paul McCartney, aquele que acaba de fazer megashows no Brasil. Paul é interpretado por Thomas Brodie Sangster, que, por incrível que pareça, é o mesmo de Nanny Mcphee, a babá encantada. Na primeira cena em que Paul aparece, os integrantes da banda perguntam se ele quer beber algo. “Tem chá?”, responde o pequeno Paul, com um cravo rosa pregado no paletó – já traçando sua personalidade paz-e-amor-e-vegetariano. Thomas Brodie Sangster nasceu para esse papel. Não esboça nada da virilidade que Lennon queria mostrar a todos. Só a música importava a Paul, e ele era bom nisso. Também há poucas e boas cenas com George Harrison, por Sam Bell. O elenco é ótimo.

Não é o filme do ano, mas a trilha sonora e as atuações valem a pena. E existe a ligação entre a diretora, Sam Taylor-Wood, e o protagonista, Aaron Johnson, com quem já teve uma filha. Será que tudo no cinema tem a ver com emoção? Não tenho dúvidas.

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